sábado, 19 de dezembro de 2009

Engraxate - Conto de Natal 2009, Silas Correa Leite





Conto de Natal 2009

O ENGRAXATE
Milagre de Natal de Uma Infância Pobre em Itararé


“Sou mutante. Não anseio a majestades cristalizadas em
palavras que não voltam atrás. Eu volto palavras, gestos
e sentimentos. Mudam tempos, momentos, situações...
mundo… Por que não mudo eu?... ” (Paul Valéry).

O pai que tivera alguns bens imóveis em Harmonia, Monte Alegre, Paraná, perseguido por grileiros e jagunços do político corrupto Lupion do Paraná, de uma hora pra outra ficou pobre, perdeu tudo, resolveu voltar para Itararé, para não ter que matar ou morrer, e ali a nossa vida degringolou de vez. Eu um guri depois de seis irmãs, vendo a coisa sofrível em casa, a portentosa mãe lavando roupas pra fora para sobrevivermos, a parca pensão que o pai depois doente recebia, e, cedo, muito cedo ainda, tive que trabalhar para ajudar em casa. De primeiro e muito precoce no trabalho, ainda cursando o primário no Grupo Escolar Tomé Teixeira, fui engraxar sapatos. Depois fui vendedor de dolé de groselha preta, depois fui bóia-fria em campos de feijão-jalo em terras do Romero, depois marceneiro, depois garçom no Bar do Calixtrato, até precocemente começar a cantar em shows de pratas da casa imitando ídolos da Jovem Guarda, depois sendo locutor de rádio e mesmo com 16 anos começar a escrever para um suplemento jovem que o jornal O Guarani trazia encartado.

Mas o começo da lida rueira foi difícil no início, para um manteiga derretida, quase bendito fruto entre tantas irmãs. Tinha eu mal-e-mal uns nove anos e tanto. A tosca caixa de engraxar sapatos pintada de verde-musgo e fora o pai que aos poucos e com muito custo fizera. Ganhando a Praça Coronel Jordão, ali concorrendo com guris mais afeiçoados ao serviço, eu mal sabia dar lustro direito, sequer passar graxa aprendera, muito menos limpar os sapatos dos botocudos. Teria que rapidamente aprender trabalhando, tinha que me virar como pudesse, olhar de piá pidão, com amarelão, ainda as agruras da primeira infância. Enquanto esperava um ou outro freguês de ocasião e percurso (e tive poucos, confesso), caixa de engraxar nos ombros, andava serelepe pela Rua XV, sondando os bares, as pessoas chiques, as gentes ricas dos lugares e suas acontecências no entorno festivo. Via aquele pessoal boêmio e todo trancham tomando rotineiros aperitivos, meninos bem vestidos saboreando uma Crush – que era muito cara para mim – outros comendo sonhos de valsas na Bombonieri Los Angeles em frente ao Grupo Escolar Tomé Teixeira do tempo do Professor Bonilha. Eu, mal-e-mal um piá ranhento que amava os Beatles e Tonico e Tinoco.

Tempo de vacas magras. Final dos anos 60, Itararé emperiquitada para os festejos de Natal, Walter Santana Menk no auge. Os guris ricos ganhavam brinquedos caros, locomotivas movidas a pilha, as casas com luzes coloridas, eu mal-e-mal tinha uma sopa de fubá com couve rasgada, um abraço demorado do pai, uma oração plangente da mãe, e suco do chafariz do Bairro Velho com bolinhos de chuva e licores de ausências. Tempos difíceis. Só por Deus.

E corto a pitanga da história aqui, lembrando que dia desses estava no Bar Chaplin, na rua Prudente de Morais, atrás do Palácio Vadico, do amigo e camarada Carlinhos Sampaulino, quando passou um guri de rua e me pediu que lhe pagasse um doce. Disse pro guri escolher. Ele deu um assobio e chamou dois outros moleques da turma, o Carlinhos disse que eles eram pidonchos mesmo, que eu não ligasse, mas eu aceitei e lhes paguei uma guloseima, eles agradeceram e saíram sorrindo, lambendo os beiços. Expliquei, emocionado, ao Carlinhos, justificando, tristonho de momento:

-Eu fui um guri pobre como eles, era Engraxate... Caixa de engraxar sapatos nos ombros. Olhava com jeito pidão o pessoal bebendo, comendo, que me viravam as costas, refugavam, mesmo quando eu pedia serviço:

-Vai graxa, moço?.

Com fome, pobrinho, queria tanto uma maria-mole de coco queimado, um encapotado de frango, um suspiro, umas balas paulistinhas ou toffe, um cuque de abóbora, uma Grapete, uma Crush estupidamente gelada, mas os tipos me olhavam com desdém, eu era da raia pobre, não queriam se misturar. Por isso ali, no Bar do Carlinhos, vencedor, lembrando dos tempos difíceis da vida dos tempos em que a água bebia a onça, não custava nada me colocar no lugar do outro, sentir a dor do outro, e pagar um doce, uma tubaina, para um guri de rua, um menino que eu também fui e ali estava apenas cumprindo meu dever com a consciência e a memória de um tempo já perdido nos calipiás do longe. Pois era isso o que eu queria dizer, voltando ao causo memorial. Os dias da infância pobre nas ruas, na Praça Coronel Jordão, um e outro sujeito que eu engraxava reclamando que eu manchara de graxa a calça calhambeque, que faltou lustro eficaz na botinha sem meia, quando não, os tipos fuinhas e mãos-de-vaca não me pagavam nada, e eu ficava, além de faminto, sem dinheiro pra levar pra cara, com a cara de pardo anjo sofrido a clamar por fé em justiça, num natal perdido nas dobras de um tempo qualquer. Mas nem sempre foi assim, claro. Há um Deus. E há ainda anjos azuis que tomam conta dos meninos de rua.

Subindo a Rua XV de Novembro, tempo amuando, friorento, eu, de chinelos de dedos gasto de um lado de tanto usar em peregrinação, parei em frente ao Bar XV que pintara uma chuvinha. Fiquei olhando pra dentro, com fome, as estufas cheias, o bar com bilhar, todo num ambiente alvissareiro, entrei, pedindo, quase implorando entre lágrimas:

-Vai graxa, Seu moço? Vai graxa, senhor? Vai graxa, Seu isso... Seu aquilo...

Eu queria só um par de sapatos de bico fino para engraxar, para poder levar uns trocados pra casa, uns tostões que fossem, a barriga roncando, quem dera uma coxinha, um encapotado de frango, um milagre – não era Natal?. Olhar brejeiro, roupa humilde, jeito pidão no meu silencial de poeta se arvorando na alma triste, e foi quando tudo aconteceu. O Seu Abrahão – nunca soube o nome inteiro dele, se era o que tinha uma empresa de ônibus, uma transportadora, ou um parente do clã – mas um tipo bem apessoado, bem vestido com zelo, impoluto, alto, moreno claro, na flor da idade, pose de rico, que traduziu a minha tristice com tez chã e depressinha pediu ao garçom do Bar:

-Sirva uns encapotados de frango pro guri aí.

(Humildemente chorei por dentro, mas não demonstrei, claro, talvez só estrelas brilhando nos olhos de pidão capitulado.)

-Sirva uma Crush também, ordenou Seu Abrahão.

E eu me senti dentro de um coração no céu de todas as honras. Comi e me fartei, bebi a gasosa, olhei o seu Abrahão que ainda me deu uns trocados e disse “Vá pra casa piá, está frio, vá descansar, vá com Deus... ”

Agradeci, “Deus que ajude Seu moço”, e saí coroado de amor, de humanismo, andar-de-segura-peido... calcanhar de frigideira...

Naquela hora senti que um anjo engraxava de luz a alma daquele homem de coração alumbrado que Deus pusera em meu caminho de berebento guri rueiro. Certamente foi a melhor ceia de natal que tive em toda a minha pobre infância rueira de trabalhador precoce.

Cresci, fiz-me forte por Deus, com resiliência lutei, me formei, venci na vida. Não sei direito que Abrahão era. Mas Deus certamente sabe, anotou na caderneta celeste o crédito. Nalgum lugar do passado a minha lágrima de fé e luz transbordou. Hoje ando pelas ruas de cacau quebrado de Itararé com a consciência tranquila, com a sensação do dever cumprido, eu, um guri mal-e-mal crescido que procura em cada ser, em cada irmão, em cada amigo, em cada companheiro e camarada, a alma daquele abençoado “Abrahão” que, certamente, fez da minha infância pobrinha um circunstancial presépio de luz naquele momento em que me estendeu seus sensíveis olhos bondosos, suas caridosas mãos de lutador, sua cintilante alma de asas...
-0-
Silas Correa Leite, Santa Itararé das Letras, Dezembro 2009
E-mail:
peosilas@terra.com.br - Site: www.itarare.com.br/silas.htm
Texto da Série “Confesso que Sobrevivi” Memórias de Uma Infância Pobre

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Nem Toda Distância é Longe

Vista Aérea de Itararé-SP, Brasil



Nem Toda Distancia é Longe

Nem toda distância é longe
Tem toda presença é física
Nem todo sexo é amor
Nem toda luz é cura
Nem todo sonho é pleno
Nem toda paz é íntima
Nem toda esperança é luta
Nem todo amor é cobrança
Nem todo poeta é sério
Nem toda felicidade é limpa
Nem toda educação é justa
Nem toda morte é perda
Nem toda dor é erro

Por isso, antes de reclamar da vida
Pense que sempre há uma saída
E, às vezes, a morte é uma cura
E viver pode ser, dependendo de vc
Um pesadelo que ninguém vê
E que esconde as labaredas do incêndio do mais verdadeiro e impossível sonho.


Silas Correa Leite
E-mail: poesilas@terra.com.br
www.portas-lapsos.zip.net

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

HAVIA UM CAMINHO DE VOLTAR PARA CASA, Poema de Natal, Silas Correa Leite





Havia Um Caminho de Voltar Para Casa


Ah querida, pode acreditar...
Havia um caminho de voltar para casa
O pai estava vivo com seu acordeon vermelho
A mãe fazendo sopa de fubá com couve rasgada
Éramos uma família pobre mas ninguém estava morto
Ruas, quintais; Itararé emperiquitada no favo da memória atiçada

Tanto tempo se passou e nos mudamos de nós, querida
A névoa ainda vem com suas sombras em preto e branco
Olho pra você e já nem me reconheço mais em mim
Se éramos esperanças ou se tudo se acabou como um pesadelo
E os que restaram têm lágrimas entre sonhos dourados
Porque é Natal e muita coisa não mais faz sentido para todos nós

Ah querida, pode acreditar
Havia um caminho de voltar para casa
Itararé era tão pertinho, quase um crepúsculo íntimo
Mas nos perdemos e agora choramos pitangas
Porque sabemos que tudo acabou como uma noite
Que se vestisse de bruma para nos fazer recordar as tristices

O que vamos fazer de nós agora que descobrimos
Que o Natal tem um presépio de pobre e não há esperança?
Tanto tempo se passou e o que restou de nós depois de tudo
Senão esse sentido de ausência e um presente que já não há
Quando eu me sinto o próprio burrinho do presépio
E a única estrela que vejo é a dos olhos saudosos chorando?

-0-

Silas Correa Leite, Santa Itararé das Letras
www.portas-lapsos.zip.net

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

BOLSA DE MULHER, SOLO MUSICAL EM PROSA LÍRICA - Crônica de Natal de Silas Correa Leite





Crônica de Natal (1)

Bolsa de Mulher - Solo Musical em Prosa Lírica

Para Danuza Leão


Amanhã...antes de se preparar para ir ao analista, de pensar em parar numa butique e comprar uma bolsa nova de grife; antes de sair para o penoso trabalho fatigante, de ter que dirigir até a faculdade ver uma pendência velha; antes de se preparar vaidosamente para fazer uma importante entrevista difícil, páre um pouquinho. Sente-se calmamente na sua predileta poltrona confortável, no seu melhor espaço do lar, e, coloque para rodar o cedê que tem na seleção aquela maravilhosa música que você mais adora; que mexe com você, resgata você, traz o céu para dentro de você, coloca você de alguma forma mágica em algum lugar do passado, nalgum sítio vetor extraordinário como um milagre, fazendo a sua consciência neural viajar como se recebesse um favo de mel, como se entrasse em alfa, fazendo você se sentir iluminada e dentro do seu próprio coração. Já pensou? Sentiu o clima? Sintonize. Capte a idéia.

Beba a música, baby! Coma a música com afeição. Inspire-na como se ela tivesse vida própria no seu psicossomático. Esteja dentro dela. Deixe que a balada rica e bela e fluente entre por seus poros, todos os poros, aquilate seu espírito de guerreira, desmanche seus andaimes (de resistência à sensibilidade tão ferida) faça você sorrir como uma criança pura que alguma forma você ainda o é, ou faça você chorar como um bebê procurando colo de mãe e mingau de maizena, numa catarse de transformadora oxigenação, e então você, numa paz algo zen-tropical, possa se encontrar consigo mesma em alto astral, no mais profundo interior de si. Lave-se no embalo e eleve-se. Música Maestro!

Há um Deus!

Pode ser...que depois do caldo encantador de passar pela musicália dessa pelica divina; dessa seda espiritual, como uma espécie de purgação perenal, muito além dessa decantação tonificadora, talvez você não precise mais correr tanto, suar tanto, sofrer tanto, se exigir tanto, se cobrar tanto, se dar tanto, nem ter que provar nada pra ninguém; se aceitar assim mesmo pujante como você é, nem precisar mais ir ao bendito analista caro, nem levar flores ao cemitério da saudade, tampouco sofrer eventual azedume temporão ou mesmo hormônico por causa de crisálidas que não vingaram, nem perder precioso tempo com bijuterias mal resolvidas da depressão, nem perder horas e dias com neuras a partir de perdas fúteis, inquietudes vazias, sobressaltos bobos ou ilogicidades próprias de certas químicas sazonais femininas de meia estação. Bolsa de mulher?

Qualquer música...As Flores do Jardim da Nossa Casa. Memory. Danúbio Azul. Caros Amigos. Se as Flores Pudessem Falar. Esse Cara. Nabuco, de Verdi. Hey Jude, Elis Regina ou Elvis Presley. Alguma, qualquer música especial e edificante, há de mexer de forma extrema e saudavelmente doce com você, com seu inconsciente, com sua gaveta cheia de gravetos de falsas culpas, e fará você relaxar como uma nuvem de algodão xadrez, descobrir-se inteira e plena em sua própria posse, em seu próprio corpo, em seu próprio eixo, em sua própria luz. Ah se a mulher soubesse toda a força que tem, na alegria e na ternura, na batalha e no tricô, na graceza ou no pudim de leite moça.

Tudo é música. Não dizem que certas mulheres são tão sonoras quanto penteadeiras de ciganas?

Muito antes da espécie humana existir no tapete voador do espaço cosmonal, no canteiro divinal da terra, o solo das galáxias inundava o espaço sideral feito palco pluridimensional. A música atemporal dos ventos, das nuvens, das chuvas de meteoritos, das poeiras cósmicas. A música dos anjos cor-de-rosa anunciando a primeira reforma de Deus, após o molde número um em imperfeito Adão e a grande perfeição final em Eva.

A Música que você bem ouvir (e muito bem otimizar-se dela), aquela que você receptar inteiramente e mexer com você a partir dessa beberagem e degustação é a que você levará para onde for. Você não veio daqui e nem vai terminar aqui. Sacou ou precisa de um mapinha? Você será o instrumento depositário, portador e hospedeiro sagracial dela. Pegue o ritmo. Faça parte da orquestra sinfônica da natureza. Todo segundo de sua vida nesse plano é ensaio. Você não é amadora. Sintonize a sua sinfonia. Saque o batom mas também pegue o tom. E os metais.

Que instrumento você quer ser e parecer? Que caixa de ressonância você é? Música é vento, som, ar, soma. Entre a aritmética e o átomo. Seja uma trombeta, uma harpa, um bandolim medieval. Seja um acordeão vermelho, uma flauta transversal, um sinal sonoro de catedrais e círios celestes.

Sendo música você soará eternamente. A vida é um estúdio. Gravando. Olhe o que você tem na sua bolsa de mulher. Rocambole de lágrimas? Tortas de perfumes? Omeletes de esperanças com rímel?

Deus é Sol Maior. E escreve por cifras tortas, pautas etéreas, pausas milenares. Solos de silêncios. Preces e almas naus.

Você é Lá. Versos brancos?

Eu, por mim mesmo, sou duas notas musicais: Si...lás...


E há ainda o descontente que não cabe em SI. Desafinado.

Ou você nunca vai querer ser a baliza lá na frente do festival de corais, preferindo assim ser uma nota musical chamada Ré menor? Fá sustenido? Ou viver sem Dó?

Seja a música. Soe alto. Vibre fé. O dial da Rádio Eterna nem precisa de antena.Você capta no coração. Conecte-se. Tudo é música. Que partitura perdida sem própolis você é? Você é opus de Deus,

Leia meu poema ao músico:

“Todo músico é mágico/Todo pensador se sobressai acima do lótus da condição humana/E há ainda os versos/Que enriquecem rocamboles/De renúncias sublimadas/Viver não pode ser um desperdício/De espaço, massa, água, ar/Toda música quer cantar isso/Numa opus sublime, singular/Cabeça, tronco, membros/Melodia, harmonia e ritmo/Todo músico quer traduzir/A luz que o procura o espírito...”



Deus é Música!



-0-

Silas Corrêa Leite – Da Estância Boêmia de Itararé-SP, Brasil
Crônica da Série “Bendito Fruto, Causos e Acontecências”
E-mail:
poesilas@terra.com.br
Site pessoal: www.itarare.com.br/silas.htm
Romance ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS no site
www.hotbook.com.br/rom01scl.htm

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Quando Morreu, Poema


QUANDO MORREU
Para Bertold Brecht (In Memoriam)
Quando morreu o coitadoTinha profundas palavras impressas na pele da faceNada demais para um poeta anônimoDeixando o seu legadoDesmaiou sobre o tecladoA pele perdeu o viço - e o sangue seco impregnouAs marcas das teclas de algumas letrasE alguns captaram algoO poeta de-assim foiConvidado a se retirar com palavras no rostoSimbolizando que talvez continuariaVida e sensibilidade totalAinda no caixão roxoEntre flores, lágrimas e algumas cantorias rudesSeu rosto estava fácil de ler palavrasSem sentido, mas com vincosAnos depois de mortoForam tirar os ossos do cadáver já decompostoMas ainda havia nos legados os caracteresParecendo um milagreAqui e ali, nos vãosAs marcas impressas - que a terra confirmou bem(Um sobrinho já metido a poeta fezUm aquário para os restos)
......................................
Ainda hoje se vê claro
As palavras entre a água - E a suspeição tristeDe que o pobre poeta anônimoInsiste em dizer alguma coisa
Silas Correa Leite
Itararé/SP

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A Única Oração Que Eu Conheço (Ditadura Nunca Mais)





A Única Oração Que Eu Conheço

(Conto da Série: Memórias da Resistência – 31.03.64/31.03.04)



“Só vos peço uma coisa: se sobreviverdes a esta época, não vos esqueçais nem dos bons, nem dos maus(..) Eles eram pessoas e tinham nomes, ros tos, desejos e esperanças, e a dor do último não era menor do que a dor do primeiro, cujo nome há de ficar...”


(Júlio Fuchik, 1980, in, Brasil Debates, Testamento Sobre a Forca)


Sempre fui ateu. Não posso acreditar na hipótese de que, quem fez, fez para destruir depois. Sempre fui um emérito comunista de carteirinha e filosofia. Um marxista teórico, comunista científico e socialista-democrático, em defesa de um sentido ético-plural-comunitário, para a vida em sociedade, com um humanismo de resultados.
Sempre achei que a religião é o ópio do povo. Uma burrice pegajenta no refluxo do inconsciente coletivo. Uma antiga invenção política para pôr freios na falsa moral burguesa, que nunca foi exemplar nas suas alcovas e bastidores do poder real. Acho até que a religião teria sido inventada pelo próprio diabo, se é que ele também existe, sentado no rabo da histórica hipocrisia social. Se todo homem é um animal político, como disse o filósofo Sócrates faz mais de dois mil anos atrás, todo homem é também um animal antes de tudo sexual e por isso mesmo pervertido, insano e cruel. Comida, sexo e poder. Esse é o destino do homem que, como todas as coisas, nasce, cresce, tripudia sobre cadáveres e serventias de sobrevivência amoral e decadente, fica tolo, senil, esclerosado e morre. Não há nada depois da morte. Viemos do nada e ao nada voltaremos. Somos esse vazio existencial entre o antes de o depois de. Sempre pensei assim. Do pó viemos e ao pó voltaremos, parece ser a única coisa certa escrita na Bíblia. Lama humana.
Mas resolvi de, assim mesmo, contar o que se passou comigo em tempos ordinários, difíceis. Tempos tenebrosos como diria Brecht.
Vivíamos o período tenebroso das trevas de uma ditadura militar incompetente, corrupta, violenta e senil. A Canalha de 64, cantada como Redentora, e seu capitalhordismo americanalhado, bancado por setores conservadores da ala reacionária da Igreja Católica arcaica, mais as peruas frígidas de Santana, sórdidos empresários amigos do alheio, e um projeto babaquara denominado hipocritamente de Tradição, Família e Sociedade, mas na verdade bancado por ratos olivas com coturnos, todos com medo do socialismo moreno-tropical do Comandante Fidel Castro que poderia se alastrar por toda a Latrina América terceiro-mundista, em detrimento de suspeitos interesses de agiotas do capital estrangeiro sediados no Esgoto Washington.
Eu, como muitos camaradas de um aparelho pego em flagrante, delatados por uns porcos empresários de grosso calibre, estávamos presos no DOPS, os chamados podres porões da hedionda polícia paulistana liderada pelo nefasto Delegado Fleury e seus chacais de antro de escorpiões que depois foi assassinado como queima de arquivo.
Eu tinha perdido bolsa na faculdade de Direito de Guarulhos (um bocó de professorzinho-major me fichara em desconfiança), também perdera emprego numa locadora de imóveis dias antes de ter sido promovido (o diretor era um janota coronel de reserva, líder do Lions Club e ex-diretor do Mackenzie), minha família foi vigiada, corríamos risco de passar fome, até que viram um artigo meu com Codinome Comando Alfa, denominado “A Corrupção Financia a Revolução” e assim eu fui levado de camburão como um bandido, seqüestrado por um bando de recos com fuça de hienas, para medo de meus amigos, familiares e inteligentíssimos colegas de esquerda.
O país agonizava, era uma eterna noite com um falso verniz de arapongagem e montados milagres econômicos que tinham um alto custo social, como depois se revelara a partir de um montado medo do Jango e outras tramóias de imbecis de terno, gravata, toga e farda, os reacionários de aluguel fundando novos covis de salteadores.
Fichados, éramos interrogados, cobravam nomes, documentos, atentados, datas, aparelhos, panfletagens, e muita gente morreu nessa época, incrivelmente muito mais do que se sabe, se identificou, inclusive por uma ala internacional da ONG Tortura Nunca Mais baseada na Europa, mais ainda vigente nesses novos tempos de tenebroso neoliberalismo-globalizado e uma terceirização neoescravista com privatizações-roubos e reformas que dão flanco ao contrabando informal, e também permitem aos narcotraficantes substituírem um estado propositalmente falido pela elite na sua essência básica de prover os excluídos sociais.
Diariamente vinha uma trinca de recos levar ou outro colega comuna de cela. Que era torturado de todas as maneiras. Se resistisse, voltaria a passar por outra sessão severa, de pau-de-arara a sodomia, de pancadaria e loucuras indescritíveis. Nem que eu tivesse um milhão de anos, eu esqueceria esses horrores. Muitos morriam no interrogatório. Então montavam fugas, falsos suicídios como o de Vlado Herzog, atentados, máscaras e camuflos para jogar areia na dura verdade, atirar fumaça nos crimes cometidos pela aparelhagem do estado militarista historicamente incompetente, sempre ao lado de latifundiários, estrangeiros, banqueiros, e uma burguesia decadente, amoral e insensível com as riquezas injustas, os lucros impunes e as propridades-roubos.
Sou uma testemunha da história. De certa forma sobrevivi, na medida do possível, mesmo para assistir um ex-marxista, ex-socialista, ex-sociólogo, e até ex-ateu, prostituir o Brazyl S/A com seu apoio a banqueiros irracionais, aumentando a eterna dívida externa, saqueando as empresas estatais e vendidas a preço de banana e moedas podres. E os piores comunistas são os falsos, de ocasião, que se abancam em cargos públicos por interesses mesquinhos, ególatras como melancias, vermelhos por dentro mas verdes por fora.
E como testemunha é que me cabe aqui relatar sobre a única oração que eu aprendi preso, em estado desesperador.
Detido no DOPS, via chegar e sair os suspeitos de sempre, via entrar e sair um torturado vencido pelo horror, via um bando de vaquinhas de presépio levando cadáveres para desovas em cemitérios clandestinos fomentados por um político do estilo rouba e diz que faz, eminência parda à sombra dos três podres poderes.
Era o regime de exceção. Era o arbítrio. Eu mesmo senti na pele a dor crucial dessa época. Uma determinação legal da ONU dizia que um povo podia se voltar armado até, contra uma ditadura, mas nós estávamos desarticulados e ali nos restávamos aguardando a morte, o exílio, ou as seqüelas que hoje eu sinto que são para sempre.
Pendurado num pau de arara, sem água, sem luz e sem pão, eu não podia dizer muito, primeiro porque era pela não-violência, segundo porque nunca tinha atentado contra ninguém, minha única arma era a palavra escrita e falada, porque eu era bom de dialética e sabia ocupar meu espaço denunciando, reclamando, pedindo por eleições diretas e o fim das insanidades palaciais. Se eu soubesse muita coisa, de qualquer maneira, confesso que jamais contaria, eu não era um alcagüete e sabia suportar pressões. Mas apanhei muito. Várias vezes. Quase morri. As sombras por testemunhas.
Lembro-me, no entanto que, por aqueles labirintos amorais e desumanos, perambulava sempre como um peregrino cândido e terno que, certamente corrompia financeiramente as altas patentes todas (que eram mesmo facilmente corrompíveis) e ali nos vinha dar sua palavra de conforto, seu apoio moral, seu largo ombro amigo, na sua tez de seda alva como a neve.
Esse anjo em forma de gente, era o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns.
Volta e meia nós o víamos saindo de uma cela, tentando cobrar autoridades do arco da velha, entre paisanos e militares babaquaras, e muitas vezes ele esteve comigo em meu solitário catre sujo de sangue seco, suor, lágrimas e desespero.
Nunca gostei de orações, não acredito nelas. O homem e as circunstâncias, é o que vale. Nunca gostei do Pai-Nosso hebraico, muito menos da oração inventada pela Igreja das trevas em tempos profanos de cruzadas que matavam pessoas inteligentes, geniais, com medo das reformas de Martinho Lutero e da invenção da imprensa que promovia cada vez mais a leitura da Bíblia sob diversas óticas e menos conduzidas por cabrestos abismais do Vaticano.
Quantas vezes ali, depois de apanhar bastante, machucado, sangrando, a pão e água, eu acordava sofrendo e entre gemidos, e via ao meu lado o Cardeal de São Paulo. Ela me pensava como podia no rigor do momento, no apurado do trauma, com sua voz fina e meiga dizia, sempre; com a sua branquela mão direita no meu ombro esquerdo:
- Seja forte, meu filho. Procure suportar, meu irmão. Sê firme, amigo.
E eu o olhava ali, enorme, grandioso, sem nada que pudesse nos ligar, um padre e um comunista, a borboleta e o escorpião, e o ouvia me dar forças, me encorajar, para que eu fosse forte, quando eu queria mesmo era morrer logo, pegar de minha cinta e me dependurar num cano alto, morrer enforcado e acabar com aquilo tudo.
Para muitos ele foi um bálsamo. Para mim também. Para muitos ele foi a salvação, a âncora entre o inferno e o sonho. Para tantos ele foi o passaporte da agonia para a esperança. Um Ser Humano e tanto. Insubstituível. Nunca haverá outro como ele. É na dor, na tragédia, no desespero, no medo e na fome, que se conhece o caráter e o referencial de um homem.
Confesso que nunca aprendi rezar, sinceramente não acredito muito nisso.
No entanto, cresci, fiquei forte, escapei, virei escritor, fui sovado pela dura lida, e, claro, como ser humano tenho medo, muito medo; tenho presságios, uma angústia-vívere, um ou outro surto psicótico, neuras, e o espírito às vezes atribulado, mais o risco do desemprego, o salário baixo, a falência da educação pública, e assim desenvolvi um medo do escuro, uma intuição de lobo acuado, um instinto tribal.
No entanto, nessas horas, vem-me à mente a imagem daquele homem santo ajoelhado ao meu lado, um ateu sonhando com utopias, e ele, Dom Paulo Evaristo Arns, é a oração em pessoa. O sentido de uma prece na sua mais altaneira definição.
Então alguma coisa em mim, meu espírito aventureiro, talvez, uma certa resiliência psicológica até, talvez uma porta para a luz, fala de mim para mim mesmo, a única oração que eu conheço, que eu aprendi na dor: Seja forte, Seja firme. E eu sinto um calor descomunal me passar pela espinha. Como se uma pilha-luz ligada no aparelho da memória recorrente, um arquivo neural que se assoma e me reconforta, me estimula, me incendeia. Um elo de fé?
E, confesso, não há melhor oração do que a imagem e semelhança de um homem digno, puro.
Perdoem, mas essa foi a única oração que eu aprendi. Essas simples poucas palavras cruas, me dão um sentido enorme de energização. Mas, somadas num imagético de um momento de terror, me dizem tudo, me sustentam, acho que até, intimamente, podem às vezes me ensinar técnicas de Vôos.
Se Deus existe mesmo, quando for a hora do juízo final, amargedom, sei lá o quê mais, e quando eu for pesado na balança, e me cobrarem alguma falta, direi em minha defesa que sei uma oração de peso, e certamente direi uma verdade inteira, expressando-a, recitando-a emocionado, com todo seu conteúdo de amor e luz, numa imagem esplendente.
Direi que, como Oração mesmo, inteira e plena, táctil, presencial, personalizada, conheço o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. Independente de placa de igreja, ele foi um mito, um mensageiro, um visitador, um abençoado. E então, espero, os anjos de Deus, seus irmãos celestes, certamente me darão o passaporte da liberdade assistida num limbo qualquer, muito além desse pardieiro chamado Planeta Água, a Nave-Cela da escória cósmica.

Silas Correa Leite – E-mail: poesilas@terra.com.br
www.portas-lapsos.zip.net

domingo, 29 de novembro de 2009

Infâncias, Poema de Silas Correa Leite

Celio Eli Correa Leite, Foto de Arquivo da Familia





Poema Escrito em JEI – EMEF José de Alcântara Machado Filho, Real Parque Morumbi


INFÃNCIAS



Que infância não tive?
Que infância não me deram?
Que infância me tiraram?
Hoje, adultizado, poeta mal crescido
Dizem que às vezes pareço meio criança perdido
Querendo escrever o que não vivi

A criança de hoje na creche
No condomínio fechado; o dia inteiro na escola
E cursos de teclado, inglês, informática, lan-house, balé
Que infância na verdade não é?

Das crianças das ruas do interior
Tiraram a terra, as árvores, as ruas, os amigos, os jogos lúdicos
E deram tevês, parabólicas, videogames, clubes de campo, gps
A infância propriamente dita já despertencida
Que infância é essa assim tão desaprendida?

A criança precocemente na escola
A criança entre quatro paredes o tempo todo
A criança com estoques de presenças esgotados
A criança que mal vive e que mal que sabe porque chora
Com a natureza toda acontecendo num mundo aberto e real lá fora
Balão, forfé, horizontes, brincadeiras, nuvens e carruagens de abóboras

A infância pobre que eu menino não tive por cedo ter que trabalhar
A infância que poderia ser rica se eu aprendesse o sonho de brincar
De criar, subir e descer ladeiras, aventuras, criancices, contentezas
Agora nenhuma criança esperta nem brincando na chuva tem mais

Adultizado eu mesmo virei meio criança-poeta a sobreviver
Virei criança crescida querendo de novo a infância no escrever
Mas, e as crianças urbanas de hoje
Que nunca crianças verdadeiramente saberão ser?

Hoje, mal adultizadas, as crianças
Querem ser o que não sabem ser
Querem ser o que não podem ser
Querem ser o que não tiveram como aprender...
A escola não ensina a criança a ser criança no crescer
Portanto, a escola não ensinará a criança a ser
Aluno, adolescente, jovem, ser humano, cidadão consciente
Nem terão o aprendizado de contentezas e prazeiranças de humana gente
Assim, nunca existirão a vida intensamente!

-0-

Poeta Prof. Silas Correa Leite
E-mail:
poesilas@terra.com.br
Blogue premiado do UOL: www.portas-lapsos.zip.net
Teórico da Educação, Especialista em Educação, Jornalista Comunitário, Conselheiro em Direitos Humanos (SP), e Escritor, poeta, crítico literário e ficcionista
Prêmio Lygia Fagundes Telles Para professor Escritor
Ex-Coordenador de Pesquisas da FAPESP-USP em Culturas Juvenis
Autor de Porta-Lapsos, Poemas, e Campo de Trigo Com Corvos, Contos, a venda no site
www.livrariacultura.com.br
Poeminho da Série “Lecionar é a Nossa Melhor Rebeldia”



terça-feira, 17 de novembro de 2009

Poema ao Poeta Silas Correa Leite, de Arine de Mello Jr

Musa Rosangela Silva e Poeta Silas em Casa, Foto Paulo Tarso Correia leite


Ao Poeta
Silas Correa Leite:



Poema do Poeta

vida e morte,
um homem na rua.
sonho e realidade,
um homem no céu.
céu e morte,
inferno de um homem.
um poeta, a obscuridade,
além disso,
simbiose do meio,
meio alma, ouro,
meio ouro, nisso.
literomaníaco,
sem dilema, esforço,
formalidade ou gênero,
poeta primeiro...
alem disso,
nada, palavra sem veio.
poeta que é poeta,
vive, a serviço...


Arine de Mello Jr. 13/11/09

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Monge e o Mosteiro, Poema de Silas Correa Leite




O Monge e o Mosteiro


O que o mosteiro diz ao Monge?
-Silêncio quase prece
E o pobre monge carece
Pois em busca de saber veio de muito longe

O que o Monge diz ao mosteiro?
(Ali, peregrino hospitaleiro
O buscador humilde, estrangeiro
É de sua caminhação prisioneiro)

Afinal Monge e Mosteiro se confinam
Num mesmo chão genuflexório
(Quem é quem no divinal ofertório
Se as contudências se afirmam?)

O Monge busca um sinal – a perfeição
O mosteiro é muro e confinamento
Quem é quem entre o sub e o sobre lá dentro
Se tudo é silencitude e oração?

O que o mosteiro diz a esmo
Sem o Monge a peregrinar?
Tudo é luz, tudo é fé, tudo é assim mesmo
O vazio se sustém naquilo que veio buscar

O que o Monge diz ao Mosteiro
Quando o encontra impoluto?
-Tudo é eterno – nada é passageiro
O fiel se espiritualiza no absoluto

Monge e Mosteiro se completam assim
Um e outro se orquestram tanto...

O monge é filosofia do princípio ao fim
O mosteiro é o inferno que consagra o santo


-0-


Silas Corrêa Leite, Santa Itararé das Letras

sábado, 7 de novembro de 2009

ROMANCE A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS, Resenha Crítica




Pequena Resenha Crítica (Primeiro Rascunho)


Estupendo Clássico “A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS” de Markus Zusak



“Nunca encontrarás a vida que procuras (...)
Os deuses criaram os homens mas estabeleceram
para eles a morte e guardaram a vida para si(...)”

(Epopéia de Gilgamés/Mesopotâmia, 2.750 a.C.)






“Os seres humanos me assombram”, diz Markus Zusak às páginas 478 da estupenda obra clássica “A Menina Que Roubava Livros”, best-selers que, certamente é um dos melhores livros escritos nos últimos dez anos no mundo, lançado no Brasil pela Editora Intrínseca, 2007. O livro é isso tudo o que dizem dele, pode acreditar e botar fé. Quem o leu não passou incólume por ele; ficou com a alma pesada pelo volume de humanismo e falta de, é claro. O livro, aliás, é tudo isso o que de si próprio diz: assombrado em todos os sentidos.

Aliás, a “Morte” contando a história toda é um achado de alta criação do fervoroso autor. E, diz, ele mesmo: Quando a morte conta uma história, você tem que parar para ler. Entrei na leitura desconfiado, e, confesso, saí bem descompensado. Confesso que chorei.

A sensibilidade atiçada expropria o fogo de si mesma.

Por diversas vezes, lendo o livro em algumas dias, surpreso, aturdido, marcado, levando no meu lado sentidor pelo gume da ficção contundente e aqui e ali aterradora, parei, senti, pensei, sangrei. E durante a louca e varrida leitura pesada escrevi artigos, contos, poemas, ensaios, letras de rocks e blues. Já pensou que respigar? Literalmete tocado, mais, atingido. Acusei o golpe do verbo ler em seu mais potencializado vetor. Não foi fácil me cortar para pelo menos tentar sair inteiro.

Viver vale a pena? Ou a morte é um leve preço a pagar, há várias mortes na morte?

Só um ano depois que literalmente larguei o bendito livro que se impregnou em mim; só dando um distanciamento do que ele visceralmente despencou em mim e sobre mim, foi que resolvi pincelar essas mal-acabadas linhas a respeito. Só agora finalmente consegui coragem-suporte para aqui estar depauperado ainda; para escrevinhar esse depoimento-rascunho ainda vibracional (de alguma maneira) de minha leitura também bem inexplicavelmente assombrada. Será o impossível?

Sim, caras pálidas, um novo clássico da moderna (e pós-pós-moderna) literatura contemporânea, que, sem ofender, é sim, um baita best-selers do mais alto gabarito literário. Bem escrito, bem delineado no conjunto, com estrutura e fibra, narrativa sedutora, apaixonante, mesmo quando choca ou evoca episódios entre arrebatadores e pragmáticos. Você garra a ler, entra de sola na contação contundente (humana?), bebe a história, sorve, sangra, é levado por ela, se incorpora, descobre afinidades, toca céus e infernos, quando vê, quer, como naquela baladinha meio brega de antigamente, parar o mundo e descer, apear, como se diz lá em Itararé. Isso.

É um trabalho literário de peso, dez vezes melhor do que os caçadores de pipas pelaí.

Somos pegos ao pé da letra pela palavra, e acabamos assim também assombrados pelo romance retumbante como um todo. Aliás, você literalmente “Vê” um filme (que se nos passa pela tela da cabeça pensante no ritmo) enquanto lê o livraço e se sacode de alguma forma com a leção.

“O pensamento é o espírito do tempo”, diz Pedro Maciel (In, Como Deixei de Ser Deus, Topbooks, 2009). Pois o autor Markus Zusak coloca a segunda guerra mundial de pano de fundo da história o tempo todo, trabalha com o horror de tantas vidas destroçadas, a própria morte sendo louvada a contar a sua sina, o estertor da morte, a poesia que há na morte, a ótica perenal da morte narradora. Só lendo pra crer. A morte contadora acima e sobre todas as coisas. Não é sempre assim? Ah a vida real... Dó. Horror. Vidas secas.

A personagem principal que é o básico eixo-fluxo da obra encantadora também por isso mesmo, é LIESEL MEMINGER; daquelas personagens que encarnam no espírito ledor e bota você para dentro de você, correndo atrás de si mesmo, feito imagem e semelhança da pureza no inferno da vida arrebentando. A Ceifadora na Rua Himmel, área pobre de Molching, Alemanha, o “Manual do Coveiro” (santo Deus!), o nazismo hediondo, os judeus despossuídos, as caras expostas de todos os seres, quase seres, subseres.

A vida-covas.

E o amigo de LIESEL, Rudy Steiner, então? Chocante. Um livro que dará um épico no império do cinema, e levará milhões a chorarem lágrimas de sangue do céu de cada um; de cada alma tomada pela arte-criação de Markus Zusak. Quem leu Humberto Eco, Ítalo Calvino, Paul Auster, há de adorar ler A Menina Que Roubava Livros perseguida pela morte, driblando-a, ilustrando-a, vivenciando-a e sobrevivendo. Como é que pode?

Ah o que a vida faz da vida, o que o homem faz ao homem, o que a guerra faz do espírito sobrevivencial dos vilipendiados. Inspiração, piração, imaginação, envergadura de. O pai acordeonista com um coração de ouro e uma alma de veludo. A mãe aparentemente seca, louca varrida, fechada em bravezas. O hóspede soterrado em traumas no porão da indulgências possíveis. A vizinhança e suas capitulações. As ruas da infância, as crianças em tempos de medo coletivo, medo adultizado.

A morte sombreando tudo, toques de recolher, bombardeios, o autor destilando os retratos de um tempo de dilaceramento da espécie humana, como um documentário de vidas infelizes, rueiras, puras, sob os escombros de remorsos e monturos da história em carne viva.

Ler o livro e nunca esquecê-lo. O espírito das trevas rondando. Ficando o estigma de relê-lo para exorcizar nossos próprios fantasmas historiais. Compre o livro se não tiver. Leia-o mais de uma vez. Vá em busca de resíduos da alma humana nas trevas de um tempo aterrador. Chorei com LIESEL sonhando o livro-vida, tentando roubá-la para pertencê-la de si mesma despojada de mãe, irmão, esperança, humanismos.

Sobrevivência aterradora. Chore com a menina LIESEL roubando um livro-vida-a-mais (passagem possível). Seja essa vida. Seja esse livro. Essa obra sangrou meu coração transido, vida-livro de sentidor que ainda acredita na arte como libertação. Ai de mim. Um dos melhores livros que li-vi-vivi em toda a moinha vida de rato de sebo. E a morte contando... tirando de letra, na metalingüística aqui e ali como estilo, livro falando de livros. O talento do autor, lidando com a carneviva (carnevida) da história. Um romance e tanto.

A morte não é só adubo.

Sim, meus irmãos, viver não é só abanar o rabo. A guerra produz monstros e tem seqüelas.

A finitude e o temor da vida exangue, frente à morte narradora. Foi instigada a minha sensibilidade, o pensamento, a abstração-coisa, e eu sofri-ler, curtir, amei ler A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS. Pela sobrevivência dela, reação dela, a vida entre paredes, as relações de abrigo e destratações. A vida terrível numa vida real romanceada. Perdas. Sonhos. Pinturas de almas humanas. Humanas? Confronto. O sentido da existência é não ter sentido algum? Há sangue na neve muito além de Stalingrado.

Nas páginas de A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS os olhos da espécie humana orbitam.

O horror da inventada verdade inventariada é um testemunho letral do que não cabe em nós, tocados que somos pela arte, e então explicitam as vísceras expostas do mundo em assombro pela ótica de A Menina Que Roubava Livros. Não foi fácil tentar chegar inteiro ao fim, se segurando em fragmentos, parágrafos, poesias e dor.

Valeu a pena ter vivido até agora para ler esse clássico. Ah, falando sério, não tive coragem-calço para citar aqui e ali algum trecho da obra-vida, com medo de expropriação; de tirar do leitor o íntimo deleite de somatizar tudo na sua própria leitura de vidas. Saibam merecer-se por si mesmos. A vida e a alma dos brutos. Bravo!

-0-

Silas Correa Leite, Santa Itararé das Letras, Novembro 2009
Jornalista Comunitário, Teórico e Especialista da Educação, Conselheiro em Direitos Humanos, pós-graduado em Literatura e Arte na Comunicação (ECA/USP)
Site:
www.portas-lapsos.zip.net
E-mail: poesilas@terra.com.br
Autor de Porta-Lapsos, Poemas, Campo de Trigo Com Corvos, Contos, O Homem que Virou Cerveja (Crônicas).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Romance A Espera do Nunca Mais de Nicodemos Sena

LITERATURA / Resenha Crítica

A Espera do Nunca Mais, de Nicodemos Sena – exemplo de como a literatura de ficção pode reordenar e recriar a ‘realidade’


Por Rodrigo Felix da Cruz*


Publicado em 1999, quando seu autor, Nicodemos Sena, completara 40 anos de idade, A Espera do Nunca Mais é uma saga amazônica ocorrida entre os anos 50 e 70 do século XX, que retrata a luta do povo amazônico frente aos desafios político-econômicos. História de índios e caboclos que lutam contra a exploração humana e a destruição da floresta: a luta dos oprimidos contra os agentes do Capital.
Embora seja um livro de estréia, A Espera do Nunca Mais (Ed. Cejup, 876 pág.) trouxe para seu autor o imediato reconhecimento da crítica, a qual, nas páginas de grandes jornais do ‘eixo’ Rio/São Paulo, reconheceu-o como a grande revelação da ficção que se fez na Amazônia brasileira na virada do século. Em 2000, A Espera do Nunca Mais conquistou o prêmio Lima Barreto/Brasil 500 anos, concedido pela União Brasileira de Escritores.
Tal obra divide-se em três partes: antes, durante e depois da chegada do grande capital à Amazônia. As três partes do livro, por sua vez, são divididas em dois núcleos narrativos, o núcleo da selva e o núcleo citadino. Em ambos os núcleos, personagens que vivem o dilema entre sua identidade ou tradição e o fenômeno de despersonalização imposto pelas novas relações de produção da vida decorrentes da “modernização” capitalista.
Somente após uma leitura superficial alguém poderia classificar essa obra como um “romance regional” que retrata uma saga amazônica. Na verdade, uma leitura cuidadosa mostrará – para surpresa do leitor – que se trata de um romance de caráter universal, que possui, como todos os grandes romances, a missão de recriar o mundo por meio de um sistema de ideias, pensamentos e imagens que unificam num só corpo a variação do cosmos, e que não vive apenas de minúcias de pequenos nadas individuais ou coletivos, mas de uma visão integral e macroscópica da realidade.
A Espera do Nunca Mais cumpre, portanto, com maestria, esse papel ordenador e recriador da realidade. Sua universalidade reside, sobretudo, no drama dos personagens, oprimidos versus opressores, a luta pela sobrevivência e por uma vida melhor com liberdade de escolha. Vítimas e algozes buscam seus ideais, sua identidade, o que não ocorre somente na Amazônia, mas em todos os lugares, razão por que classificar tal obra como “regionalista” seria reduzir sua grandeza.
Sena evoca Émile Zola em Germinal mostrando a luta entre classes, na qual os desfavorecidos se revoltam e são neutralizados. Zola, antes de escrever sua obra, efetuou larga pesquisa chegando ao ponto de conviver com mineiros. Sena, por sua vez, foi criado no ambiente descrito em suas obras – a Amazônia brasileira, mais precisamente, as selvas do município de Santarém, no estado do Pará –, e, para escrever este grande livro, procedeu também a uma profunda pesquisa. Tal esforço para pesquisar o meio e a cultura não é desprezível, pois Thomaz Edison disse que “o gênio é 1% de inspiração e 99% de suor”. O labor de Sena não produziu um livro de conteúdo apenas exótico, como tantos que escolheram as selvas amazônicas como palco para seus personagens. Maduras análises sociais expõem as chagas de uma sociedade que se debate entre o arcaico e o moderno:

“– Sabe o que eu penso, Julião? Tanto os militares quanto essa molecada que ataca o governo são umas mulas. Se a ditadura caísse, o Brasil acordaria no dia seguinte comunista. Já pensaste o horror? No Comunismo não há liberdade, nem propriedade privada, nem família. Tudo lá pertence ao Estado. E sabe quem é dono do Estado? Os burocratas – respondeu Cândido Abrósio, professoral.
– Oras bolas! Se é como diz o deputado, já estamos no comunismo! – provocou Julião.
– Como assim, meu jovem?!
– Me mostre a liberdade, a propriedade privada e a família no Brasil! Há liberdade com ditadura? Há, sim, más só para poucos. Liberdade para explorar uma mão-de-obra semi-escrava. Há propriedade? Há, sim, o latifúndio, enquanto a maioria não tem onde cair morta. Há família, deputado, com desemprego e salário de fome?” (p. 507/508)

A Espera do Nunca Mais, além de possuir caráter universal, também possui caráter épico. Para perceber estes caracteres o leitor deve fazer uma leitura observando três fatores fundamentais: o uso do “eu” Bakhitiniano, a complexidade psicológica das personagens e o uso do recurso narrativo in media res.
A primeira característica marcante que Sena trabalha em A Espera do Nunca Mais é o “eu” Bakhitiniano incompleto, dividido e que está numa eterna busca de ‘completude inconclusa’, em busca de si mesmo. O próprio título do livro apresenta esse “eu” Bakhitiniano – A Espera do Nunca Mais.

“Bem que eu gostaria de ir contigo, mas se nunca mais voltares também não vou chorar. Sabe, a gente aqui nasce e cresce esperando alguma coisa que a gente nem sabe o que é. A gente espera, espera, espera, tanto espera que acaba morrendo sem saber que passou a vida esperando” (p. 807).

Todos os personagens principais trazem em seu íntimo essa inquietação e angústia existencial.

Silvestre Bagata: “A partir de certo dia, porém, Silvestre Bagata começou a demonstrar um envelhecimento precoce. Perdeu o interesse pelo trabalho e até por Veva, e deu para acocorar-se no porto, no mesmo lugar onde se acocorava o vô Pachico, olhando sempre pro rio, balbuciando sons sem sentido enquanto coçava o enorme culhão que jazia fora do calção encardido, como se acometido por um pileque eterno. Sabá, assim como o pai outrora dava ao vô cuias de tiborna, dava-lhe agora de vez em quando goles de cachaça. Pouco a pouco um palor funéreo cobriu o rosto do valetudinário, que perdera a virilidade e o vigor, corroído por um processo de completo emasculamento, no qual os momentos de delíquio já eram mais longos que os de lucidez. Antes de morrer e ser enterrado na curva do rio, Silvestre Bagata aguentou algum tempo nessa semicoma...” (p. 57)

Gedeão: “Embora triste, Gedeão não desesperava, pois a esperança é como o ar para esses caboclos esquecidos há séculos no grande vale e que se acostumaram a viver uma longa espera.” ( p. 261)

Essa inquietação existencial é característica do ser eterno e interexistencial. Como cantou Raul Seixas: “Eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. O ser humano não é apresentado como um ser uno, mas como um ser complexo que vive várias existências em busca de sua identidade. No início do romance é narrada a trajetória de Silvestre Bagata em várias existências até sua reencarnação como Gedeão. Esse ser traz consigo uma tendência depressiva suicida. Uma luta entre sua coragem e covardia.

“Cansado de investigar em vão a sua origem, Gedeão sentiu pela primeira vez aquele desejo de morrer tão típico dos Bagata.” (p. 180)

Em sintonia com a crença predominante entre os ‘povos da floresta’, Estefano Alves Barbosa, o vilão da obra, surge como a reencarnação do explorador português Bento Maciel Parente, que em 1639 comandou as chamadas Tropas de Resgates.

“... ele entregou ao facinoroso português Bento Maciel Parente, que comandava, em 1639, uma das piedosas ‘tropas de resgates’, que tinham como nobre objetivo libertar da escravidão e salvar da morte certa os infelizes índios aprisionados por outras tribos, subjugando-os porém a uma nova e mais atroz escravidão, pois, como diziam os senhores portugueses, ‘escravos por escravos, era preferível que o fossem dos cristãos’. Contudo, mal concluiu a vil transação, a Providência fulminou o tuxaua com a morte, na qual, readquirindo a plenitude do conhecimento, reconheceu o seu erro e aceitou o desafio de regressar a este mundo para submeter-se a novas provas, certo de que agora as venceria.” (p.58).

O caboclo Silvestre Bagata, já moribundo, como que num transe, olha para Estefano e lança o seguinte impropério, como se o conhecesse de longa data: “– Maciel, filho duma porca, assassino de índios, comedor de criança, eu sei quem tu és. Maciel, filho duma piranha, eu vou mas volto pra te f ...” (p.62)
Passemos à segunda característica marcante da obra, a construção das personagens. Analisando-as, observamos que o romance inova, pois estas são ao mesmo tempo planas (ou bidimensionais) e redondas (ou tridimensionais). As personagens planas geralmente são personagens caricatas, cujo nome representa suas características. Gedeão – aquele que luta pelo seu povo; Diana – a princesa, a bela; Silvestre – da selva; Julião – Julien Sorel de O Vermelho e Negro que vive entre a paixão e a ambição; Maria Clara – a típica burguesa, etc.
As personagens redondas têm profundidade psicológica, são dinâmicas, obedecem a impulsos interiores. Gedeão e Diana não são simples tapuios, têm sentimentos, nobreza e aspirações. Julião vive dividido entre o ideal socialista e a ambição na escalada social; este, como Julien Sorel de O Vermelho e Negro de Sthendal (que vivia dividido entre o amor de Madame de Rênal e Mathilde), vive dividido entre seu amor por Dora ou Maria Clara.

“Não fora pelo Partido que Julião decidira entrar no Exército, porque nenhuma entidade do mundo, nem mesmo o Partido, comandaria doravante seus passos. Não era mais uma peça que não encontra sentido fora da engrenagem. Fora manipulado por entes invisíveis, que ele próprio criara. Agora teria absoluto controle sobre seu destino. Chegara a retirar o pôster de Lênin da porta do guarda-roupa, pois não precisava de guias...” (p. 543)

“Quanto às mulheres, não fosse uma cabocla no Marajó e Maria Clara, Julião seria casto. Basta, porém, três meses de campus – convivendo com as garotas mais bonitas de Belém, filhas da aristocracia paraense – para adquirir consciência da atração que exerce sobre elas” (p. 595)

O vilão Estefano é também o típico conquistador, possui uma vida dupla, vivendo os costumes dos selvagens e mantendo uma família típica burguesa na cidade.

“... Mas como sou um homem bom, faço-te a seguinte proposta: se mandares a tua mulher dormir comigo amanhã à noite no barracão, perdôo todas as suas dívidas.” (p. 127).

“O comerciante Estefano nunca se conformara por não ter um filho varão, legítimo, para ajudá-lo nos negócios. Amava Dora – ao seu jeito, é verdade –, mas não era a mesma coisa. Ele precisava tanto de um filho homem! Mas, à falta deste, daria à filha tudo o que também daria ao filho que não veio, inclusive estudos. Por isso a moça teve de vir a contragosto para Belém, onde começou a estudar administração de empresas – mais uma imposição paterna” ( p.289)

Diana, por exemplo, que poderia ser uma simples cabocla, define seu entendimento sobre a interexistência do ser:

“– Ninguém morre, apenas desaparece, mas fica na lembrança da gente e nas coisas que a gente vê mas não sabe que é a pessoa que foi simbora; e quando essas coisas olham para a gente então a gente lembra da pessoa que se foi; a gente lembra e pensa que é só lembrança, mas não é não; a pessoa que foi simbora tá aí pertinho da gente e a gente não vê...” (p. 808)

Por fim, a terceira característica fundamental da obra: A forma de narrativa. Sena utiliza o in media res (latim para “no meio das coisas”) que é uma técnica literária onde a narrativa começa no meio da história, em vez de no início (ab ovo ou ab initio). Os personagens, cenários e conflitos são frequentemente introduzidos através de uma série de flashbacks ou através de personagens que discorrem entre si sobre eventos passados. Obras clássicas tais como a Eneida de Virgílio e a Ilíada de Homero começam no meio da história. Apesar da ordem dos acontecimentos não ser linear, a História não perde verossimilhança nem credibilidade, uma vez que em seu romance-epopéia Sena descreve com intenção de veracidade os acontecimentos históricos (a construção da barragem no rio Maró – a luta pela liberdade dos caboclos da região – a luta pela escalada social de Estefano e Julião). Com este processo, a ação torna-se mais dinâmica e mais atraente para o público e constitui a terceira característica fundamental da obra.
No capítulo 1 da primeira parte a narrativa começa com Gedeão durante o meio da saga:

“Era ainda muito cedo quando o grasnar desagradável das ciganas o acordou. Gedeão saltou da rede onde dormira e, às apalpadelas, tropeçando em alguns paneiros de farinha empilhados no piso de chão-batido da casa, procurou a tênue claridade que penetrava pela porta de palha.” (p. 19)

Em seguida, no capítulo 2, a narrativa faz um flashback voltando a Silvestre Bagata, vida anterior de Gedeão:

“Conta-se que Sebastião Bagata, o Sabá, era o mais velho dos cinco filhos do falecido Silvestre Bagata, cujo avô, ao que se sabe, foi o primeiro morador do rio Maró...” (p. 30)

Então a narrativa segue até chegar ao momento do 1º capítulo e, então, inicia-se a segunda parte do livro.
Na segunda parte do livro é narrada a trajetória do personagem Julião, do núcleo citadino. No primeiro capítulo da segunda parte Dora, filha de Estefano, conhece Julião, aquele que viria a ser seu esposo:

“– Não és o rapaz que conversou comigo no primeiro dia de aula, o filho do fazendeiro do Marajó?” (p.292)

No 11º capítulo da segunda parte – O Búfalo Rosilho – ocorre um novo flashback para o momento em que o jovem Julião chega a Belem para estudar ficando hospedado na casa do Sr. Alarico, um fazendeiro amigo de seu pai:

“E Julião foi logo cair na casa dos Alarico. Uma gente metida a besta, que morava num prédio modernoso, enfeitado com pastilhas coloridas, para distinguir-se dos velhos casarões empoeirados onde ainda se escondiam os netos decrépitos da aristocracia decadente dos tempos da borracha” (p. 363)

Então a narrativa segue seu curso, adentrando a terceira parte do livro e seguindo até o final da obra. O uso do recurso narrativo in media res aliado à complexidade das personagens e dramas típicos do povo amazônico constitui o caráter épico do romance-epopeia A Espera do Nunca Mais. A antiga epopeia girava em torno de um acontecimento amplo e invulgar no qual um povo via espelhado o melhor de seu caráter moral e material. Quem atuava eram homens de superior envergadura, protótipos da comunidade, heróis ou semideuses que cumpriam a vontade divina.
Em A Espera do Nunca Mais o homem comum perde a força heroica e ganha em autonomia afetiva. O Mito aparece e cede o seu lugar ao social. Tal romance épico surge como um tipo superior de romance que remete o leitor ao mito moderno. Canta-se ao leitor as lutas e feitos do povo amazônico diante do aparecimento do Capital com suas quase sempre maléficas consequências.
A Espera do Nunca Mais é uma verdadeira lusíada da Amazônia (ou melhor, amazoníada) com toda sua grandeza épica e romanesca, obra digna de ser lida, estudada e para figurar no cânone da literatura brasileira.

_________________
*Rodrigo Felix da Cruz é bacharel em Letras e Licenciado em Letras Português-Francês pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP-Universidade de São Paulo. E-mail: rodrigofelixcruz@ig.com.br

sábado, 24 de outubro de 2009

Eu me Lembro... Eu me Lembro, Poema Para Elcir Melo, Maestro Premiado de Itararé





Eu me Lembro... Eu me Lembro

Para o Maestro Elcir Melo


Eu me lembro, eu me lembro... chovia tanto
A mãe costurava uma meia cerzida num canto
Cuidando de mim que entrara do relento
Lá fora tormenta, tempestade... e o vento


-O que há mãe, mais forte que a chuvarada?
A mãe me olhava – mas não se dizia nada
Porque lá fora o temporal insano varria
O quintal, a criação e toda a estrebaria...


Mas lá no fundo a minha mãe sabia
Que no futural eu mesmo aprenderia
Depois de muito levar sovas da vida


Bem maior do que a terra e os anseios meus
Maior que a vida, a arte, só mesmo Deus
E o eterno amor de minha mãe querida!

Silas Correa Leite

domingo, 18 de outubro de 2009

Presentes - Poema de Natal

Poeta Silas e Musa Rosangela






Presentes

Coloco meus chinelos de adulto atrás da porta
Talvez a espera de um presentinho de Natal
Estou velho, cansado, mas o que me importa
Se por dentro me sinto uma criança, afinal?


Mas no outro dia tenho medo de me levantar
E de ir ver qual resposta tive nos chinelos
Olho o céu dardejando entre raios amarelos
Como se houvesse um outro futuro a me esperar

Passa o tempo e lá por quase um meio-dia
Levanto e descalço vou meio que escondido
Feito criança outra vez, com alguma fantasia
Procurar presentes, ver o que tinha acontecido

Sobre meus chinelos só poeiras e picumãs
Ponho sentidos em metáforas tão sombrias
De que são feitos os raios dourados das manhãs
Se não presentes de Deus para nós todos os dias?

Silas Correa Leite

domingo, 4 de outubro de 2009

Noite de Autógrafos ASSIM ESCREVEM OS ITARAREENSES





Convite Especial

“Noite de Autógrafos” de Lançamento do Livro

“ASSIM ESCREVEM OS ITARAREENSES”

Primeira Antologia de Prosa de Itararé

Com Quatorze Escritores de Renome de Itararé

O evento lítero-cultural com a participação de Artistas de Itararé realizar-se-á dia

11 de Outubro, Domingo, às 20 horas

No Salão do Clube Atlético Fronteira
Rua XV de Novembro, 341, Centro, Itararé-SP, CEP 18460-000

Prestigie, Divulgue, Promova, Compareça

Estância Boêmia de Itararé, Santa Itararé das Artes, Cidade Poema, Bonita Pela Própria Natureza – A História do Brasil Passa Por Aqui

Apoio Elos Clube de Itararé, CPP, Imprensa, Rádios, Faculdades, Comércio, Indústria, Diretoria de Cultura da Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Turismo de Itararé, Gestão Luiz César Perucio

Comissão Organizadora
Silas Correa Leite
Maria Coquemala
Jorge Chuéri

domingo, 27 de setembro de 2009

Sambaqui, Romance Historial de Urda Alice Klueger





Resenha:


Sambaqui, Importante Romance Historial de Urda Alice Klueger

“Quanto mais examino o universo
e estudo os detalhes de sua arquitetura,
mais indícios encontro de que ele devia
saber, de alguma maneira, que estávamos
chegando...”

Freeman Dyson



O Romance historial SAMBAQUI, Editora Hemisfério Sul, da já renomada romancista Urda Alice Klueger, tem essa coisa de você se apegar pela palavra e não largar mais, ir se entretendo na leitura, cativado, vencendo páginas, quando vê, você comeu pelas beiradas o livro de 245 páginas, edição 2008.

Como era o continente brasileiro antes do “achamento” pelos colonizadores lusos? Bela pergunta.

Pois a autora Urda Alice, renomada literata na linha de Proust, já tem seus dezoito livros, todos de qualidade, obras que, certamente já a apontam como a melhor escritora do sul, e uma das melhores do Brasil, na linha da literatura brasileira contemporânea. E lá se vão romances, crônicas, trabalhos infanto-juvenis de memórias, turísticos, narrativas de viagens, etc.

Muito criativa, Urda Alice conta numa linguagem fluente e bonita que cativa, toca, toma você pela mão e leva suavemente para aquilo que dela você com muito prazer lê. Resultado de muitas releituras, entendimentos e pesquisas (cientificas, arqueológicas, em museus, universidades, bibliotecas), a Romancista Urda Alice arrisca com conhecimento de causa as contações, aventurando-se com conhecimento do oficio, situando-as entre aproximadamente 4000 antes de nossa época, e acerta em quase tudo; foi feliz pelo que imaginou com criatividade, e pela sequência narrativa de qualidade.

Trabalhando a antiguidade no sul Catarinese, Urda Alice Klueger inventa a história de Jogu, Sanira, Calexo, entre outras personagens, com seus rituais, sonhos, trocas e feitiços, mais crendices, usos e costumes, ainda pescas, caças e interação dos silvícolas ameríndios com a natureza, entre os sambaquis da região; e de como poderia ter sido, como certamente foi, no seu entender, no seu feitio de criar, pesquisar, fazendo o leitor se interessar por essa viagem ao passado, retrazendo vestígios, veredas, ramificações, histórias alegres e tristes, sempre com muito gabarito e conteúdo narrativo.

Mapeia, faz importantes intersecções do que ocorria a mesma época narrada no romance, na Ásia (entre os rios Tigre e Eufrates), África (Egito, Rio Nilo), Mediterrâneo (Grécia, Irlanda), América (Peru), Europa, etc, levando e trazendo as ligações das histórias nas sequências próprias do romance, intercalando a contação de como era na mesma época entre outros povos, etnias, civilizações. Muito importante isso, reforçando o caráter criativo e importante do romance que assim carrega em belas pinturas textuais, mesmo que, de passagem, um mesmo um certo enfoque de circunstancial documentário.

Trabalho literário e histórico-arqueológico, tendo levado dez anos para ser terminado, a escritora nascida em Blumenau e muito bem conhecedora dos pagos sulistas, conta de tradições, envolvimentos ribeirinhos, a cultura toda própria da época e da região, e, tem peregrina alma viajosa, não foi difícil para ela imaginar com competência, viçando seu lado de “sentidora”, descrever com qualidade e riqueza de detalhes. Sim, os índios caçavam, pescavam, mas também amavam, tinham suas relações afetivas na tribo, na relações humanas de entendimento e convivência harmoniosa, uma visão bem sócio-comunitária também para a época. O Brasil antes de ser o Brasil.

-Alberto Ellis dizia que “alguns indivíduos fazem profissão de contar historias, e andam de lugar em lugar recitando contos”. Pois Urda Alice Klueger vai fazendo récitas literais de suas crônicas, experiências de bagagens de viagens, e mesmo romanceando fatos, vidas, acontecências; vai dando o seu toque todo feminino e por isso mesmo lindo, romântico, pessoal, naquilo que com talento inventa de inventar.

-O Romance Sambaqui é isso. Uma obra datada que, certamente servirá de pesquisa literária para conhecermos mais desse Brasil, e dos “nativos” que aqui já o habitavam antes da invasão colonizadora. Urda Alice colabora com isso. O livro tem, assim, sua importância de vezo histórico. Mais uma vez, portanto, a autora sabiamente acerta a mão no acabamento final de compreensão das evidências históricas, na condução do romance Sambaqui, que, por isso mesmo, vira um clássico da literatura brasileira.

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Silas Correa Leite
E-mail:
poesilas@terra.com.br
Autor de O HOMEM QUE VIROU CERVEJA
Giz Editorial, 2009, São Paulo


sábado, 19 de setembro de 2009

Romance "A Dualidade" de Arine de Mello Jr




Pequena Resenha Crítica:

O Horror dos Miseráveis no Romance “A Dualidade” de Arine de Mello Jr.


“Que não temas amar sabendo
Que embora a vida seja sombra e luz
Num palco de perplexidades
Aqui estarei para que venhas(...)
E se souberes querer que em mim
Tenhas pouso e pasto e sacrilégio”

Lia Luft



Lançado pela Editora Nelpa de São Paulo, o belo Romance “A Dualidade” do já consagrado escritor (poeta e ficcionista) de Ponta Porã-MS, Arine de Mello Jr, pelo próprio título da obra já se apresenta de alguma maneira: a luta do bem contra o mal nos seus mais plenos estágios, de espirituais a sobrenaturais, na cidade de Paraíso que, paradoxalmente ao que o próprio nome alude, é mais do que uma espécie assim de filial do inferno em tempos de dezelo público neoliberal, dívidas sociais impagas, injustiças criminosas e mesmo um quadro de abandono social histórico, numa usurpada geografia de contrastes sociais do norte do Brasil.

A “luta” brava não só e exatamente pelas causas sociais ou agro-rurais, na conturbada região de Altamira; portanto não entre classes dominantes e miseráveis como foco, ou mesmo sem terras contra latifundiários num tema político, mas a miséria mesma em todo o seu triste horror, evocando a mente não os miseráveis de Paris, mas os miseráveis expropriados dessa nossa afrobrasilis latrina sulamérica católica com suas aberrações de toda ordem (ou desordem) entre a hiléia verde e o homem explorador ainda satanizado. Pra começo de conversa, um amargurado homem urbano, de uma grande cidade - com suas estátuas, igrejas e cofres - perdido, infeliz, à procura de si mesmo; peregrino a buscar sinais e sentido para viver, e sobreviver de algum modo, que vaga até dar-se errante em plagas de cafundós pra lá de onde o Judas perdeu o tênis all-star, um lugar perdido no mapa, mas em que há atribulações de seres como reses tangidos com medo para o redil dos submissos, lugar que terrivelmente tem a sua historicidade degradante toda própria, onde exploradores do povo estão impunes, onde as forças do mal convergem para uma hecatombe, onde não se sabe quem é bandido e quem é autoridade constituída, e onde, ainda por cima de tudo, como pano de fundo por assim dizer, descontroladas forças sobrenaturais se juntam para criar uma espécie de apocalipse moreno-tropical como sinal de começo do fim do mundo. O autor vai longe, tem imaginação, carrega nas tintas, pintando o pré-caos.

Numa impressionante narrativa realista, onde o personagem principal como que, se atendesse a um chamado espiritual de um tempo que já se perdeu nas dobras dimensionais do espaço, fugindo de si mesmo e querendo purgações de alguma maneira, como por uma estranha coincidência (muito além das fronteiras da alma); como uma profecia bíblica cai no olho do furacão de um local abandonado por Deus, e como numa batalha de miseráveis, em união pra lá de ecumênica junta-se a um pastor, um espírita, um católico, tudo isso entre matadores de aluguel impunes, jagunços, pervertidos, grileiros, ateus, loucos, garimpeiros, cegos, velhacos, ossadas e cadáveres, tentando enfrentar o que não sabe exatamente o que é e quem é, mas um verdadeiro legado do demo em vidas passadas e com cobranças num devir próximo, em terra de muito ouro e pouco pão, do nosso estilo mestiço-afrobrasilis de tantos renegados entregues à própria sorte, numa área perigosa de garimpo, local sem alma e sem lei, onde reina a arma branca ou uma valentia sobrevivencial, tudo figurado pela dona Morte. Vai por aí o belo romance.

Arine de Mello Jr, já elogiado por um dos melhores poetas brasileiros de então, Ascendino Leite, que dele diz “(...)Autor que honra e enriquece nossa linguagem lírica de modo irresistível e une com a vida nossa à do nosso país e da nossa comunidade comprometida com os valores de uma expressão poética(...)”. Ou ainda elogiado pelo maior proseador brasileiro, Moacyr Scliar, que comenta dele: “O autor tem um excelente domínio da forma poética, muita sensibilidade, muita imaginação(...)”.

Falando sério, com um handicap destes, o autor só poderia estrear muito bem como romancista numa ficção limpa, fluente. Logo de cara o romance “A Dualidade” se nos apresenta um prefácio edificante de Caio Porfirio Carneiro que apresenta o autor do livro: “O autor desce fundo no passado de Paraíso e descobre surpresas espantosas e espetaculares(...). Com uma disposição e sede de justiça, o personagem narrador enfrenta todas as tempestades e borrascas demoníacas(...). Paraíso é um sarcófago, um símbolo regional de alcance universal, entre o Bem e o Mal, entre Deus e o demônio em atmosfera lúdica(...). A busca da justiça social aos deserdados contra o poder dos que, lá em cima, acomodam-se com os cordéis do comando”.

É isso. Com os cordéis da contação sob domínio, o autor delineia um teatro ora de absurdos, ora de incompletudes, ora de um adubo humano entre carcaças e sofridas acontecências ribeirinhas que o personagem narrador, como um herói de ocasião, veio cobrar, justiçar. Será o impossível? Arine de Mello Jr, Advogado, com passagem pela Administração Pública em sua aldeia natal, Ponta-Porã, MS, é já autor de 3 livros de poemas: Estes Momentos (2004), Outros Momentos (2005) e Reflexões dos Momentos (200&), todos lançados pela Scortecci Editora de São Paulo. Vargas Llosa dizia: Escrever é uma obrigação para nos dar uma apaziguação existencial”. A busca do personagem principal é a busca também do autor como testemunho de um tempo, seu tempo, nosso tenebroso tempo?

O autor trabalha a tez chã de uma área em conflitos, narra os desacertos dos miseráveis que bem retrata em preto e pranto, o horror da própria miserabilidade social, rituais demoníacos, seres doentes, mistérios, erranças, encarnações datadas, e ainda, aqui e ali, poético e um filosófico prisma: “Onde está a inteligência humana?(...). Onde está o lado bom da vida que é o amor? Na globalização dos mercados? Nos preços dos remédios? Nas sementes modificadas dos alimentos?(...) Nas guerras, nas armas sofisticadas?(...) A compaixão de Deus está nesse inferno que ele criou para separar o o joio do trigo(...) Li nomes naqueles corações de vidro(...)”

É isso, Arine de Mello Jr conta do joio e do trigo, quando não estão os dois num só – ah a espécie humana tão desumana - uma espécie assim de “troios” humanos, pseudo-humanos. O horror da miserabilidade e desesperança.

Talentoso, no entanto, lidando com um tema arenoso, o autor não cai na falácia panfletária, mostra todo seu caldo cultural, sua inteligência criativa, narra na primeira pessoa a vivificação letral dos fatos. O livro de cara custa a engrenar, fica algo suburbano, de uma altura pra frente, situado o conflito emergente, corre a corrente narrativa com garbo, é difícil de largar até chegar aos mistérios, contudências e final; você quer saber, quer continuar, tal a historiação entrando literalmente nas entranhas das almas sucumbidas pelo caos, pela maldade humana, pelos podres poderes de áreas periféricas desse Brazyl S/A; o espectro horrendo do devir que se afigura trágico, as injustiças sociais e o risco de uma desgraça mundial a partir daquele lugar perdido no tempo e no espaço, como se um filme se passando na sua cabeça de leitor cativado ao ler e “ver” as cores das imagens correndo. “A Dualidade” é com todas as letras, o próprio eixo do romance, o leitmotiv; o núcleo em toda a construção literária de fio a pavio. Ganha quem gosta de leitura de qualidade onde o mal e o bem se confrontam e, bem ou mal, todos saem perdendo, porque o custo vem da derrama de lágrimas e sangue. Mas, afinal, é Deus ou o diabo que mora nos desfechos?. Leia o livro. Você vai adorar. Faz valer a pena conhecer um escritor de gabarito.
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Silas Correa Leite – Santa Itararé das Letras, SP, Brasil – Teórico da Educação, Jornalista Comunitário, Conselheiro em Direitos Humanos
E-mail:
poesilas@terra.com.br
Site: www.campodetrigocomcorvos.zip.net
Autor de O HOMEM QUE VIROU CERVEJA, Crônicas Hilárias de um Poeta Boêmio, Giz Editorial, SP



quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Maria Apparecida S. Coquemala: ANTOLOGIA DE PROSA DE ITARARÉ, Assim Escrevem os Itarareenses





Antologia de Prosa de Itararé: Maria Apparecida S. Coquemala


-De todos os autores consagrados que constam na antologia ASSIM ESCREVEM OS ITARAREENSES, a ser lançada dia 11 de outubro, no Salão Real do CAF, com um forfé de primeira grandeza, na verdade, quem eu menos conhecia, por incrível que possa parecer, era a Mestra Coquemala. Os demais artistas, ou eram super-amigos, ou eram grandes amigos conterrâneos, ou eu conhecia de vista, por ouvir dizer ou mesmo de nome, por familiares, ancestrais, ou ainda por intermédio de canais da web que em suas infovias agregam saudades e acolhimentos. Para não dizer do Mestre Jorge Chuéri, claro, que esse é pai-patrono, referencial, conhecendo-o desde os 11 anos, quando me aconselhava: Estude... leia... trabalhe. Depois, estude muito, leia muito, vá para São Paulo... A Mestra Coquemala foi, aqui e ali, trocas de contatos iniciais, depois, via e-mail, quando vi, tava feita a grande amizade, de lastro, depois, finalmente, a bela parceria que redunda agora em mais um livro para a Brita-Biblioteca Real de Itararé.

Porque a mestra em literatura Maria Coquemala é gente fina, expert e especialista na área, sempre solícita, verdadeira, sensível – adora o Mestre Jorge Chuéri como eu, o que é um dom-reconhecimento – e assim me ajudou muito, dando dicas, alertando, além, claro, do alto astral, ótimo humor, bom bate papo em sintonias literárias. É talentosa de somar, de edificar, além de ficcionista de primeira grandeza, com vários prêmios até no exterior, portanto sua participação com contos logo de cara com qualidade dignifica a Primeira Antologia de Prosa de Itararé.

Cada autor, no conjunto do livro, tem a sua toda especial peculiaridade participativa, dos mais novos aos renomados, cada um com estilo todo próprio, todo seu, e a Maria Apparecida S. Coquemala tem uma ficção brilhante que, claro, concedeu um toque de maestria ao livro ASSIM ECSREVEM OS ITARAREEENSES. Conhecê-la e sabê-la via e-mails, depois pessoalmente em algumas visitas, foi um agrado que muito me ajudou, ficando até esta croniqueta como um mimo de respeitoso afeto pra ela, esposo e familiares. Sem ela, pilar da obra, não teríamos a edição do livro. Paciente, justa, solícita, intermediadora, aprendi muito e quando tive que ceder para que tudo fluísse em bons acertos e ótimos arranjos literários, foi vitória dela. Além da minha fama de encrenqueiro, briguento, São Paulo ainda me fez mais determinado e turrão – eu não venceria aqui se fosse um frouxo – então, nas lidas com Itararé em que prevalecem ainda considerações e somas, fui, portanto, premiado com o, digamos, convívio virtual dela. Espero que não seja o único trabalho em parceria, esperamos já para o ano vindouro criarmos uma outra linha de trabalho literário, e ela, a Mestra Coquemala, será sempre esse farol que me norteou e me deu acertos fundamentais nas tratativas em Itararé e por Itararé, porque, afinal é Itararé que vale, por essas e outras lidas culturais, sempre haverá Itararé. Obrigado Mestra.

Quando tivermos o livro em mãos – ah a emoção que espera por todos nós! – cada escritor será irmão ali naquele conjunto de escritos e iluminuras, numa obra que irá para história, parte cultural sim, das festanças de aniversário dessa nossa Santa Itararé das Artes, para o memorial daqueles que criaram na terra-mãe que amamos tanto. Capa, orelhas, tudo, será sangue, suor, lágrimas, tempos passados e tempos presentes, momentos maviosos, informações, acolhimentos, somas, mais o afinco da Maria Apparecida S. Coquemala dando uma força, sendo sempre de enorme valia. Aprendi muito com o jeito cândido dela. Como deixei Itararé mas Itararé não me deixou, nunca rompi o cordão umbilical com minha Cidade-Poema, a Maria Apparecida S. Coquemala reforçou esse vínculo, estimulou esse grande amor pelas origens, assedimentou relações e ganhamos todos. Por essas e outras, porque hoje é sábado,

-A Bença Mestra Maria Coquemala!. Longa vida!

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Sampa, Agosto/Setembro 2009
Poetinha Silas Correa Leite
E-mail:
poesilas@terra.com.br
Blogue www.portas-lapsos.zip.net

domingo, 13 de setembro de 2009

Lançamento ANTOLOGIA ASSIM ESCREVEM OS ITARAREENSES



Artes de Itararé:
CONVITE ESPECIAL

“Noite de Autógrafos” em Santa Itararé das Letras


-Temos o prazer de Convidar V.S.a(s). e excelentíssima(s) Família(s), para o lançamento da obra literária “ASSIM ESCREVEM OS ITARAREENSES, Primeira Antologia de Prosa de Itararé, Editora All-Print, SP, no evento lítero-cultural que ocorrerá dia 11 de Outubro de 2009, domingo, às 20 horas, no Salão Nobre do CAF.

-A Noite de Autógrafos contará com a presença de artistas, escritores, jornalistas, educadores, boêmios, contadores de causos, inventores do inexistente, andorinhas sem breque, poetas e cidadãos dessa Itararé-Estância Boêmia que amamos tanto, e, portanto, não poderia(m) faltar o(s) nobre(s) amigo(s).

Será uma honra tê-lo(s) conosco.

Afinal, já disse Leon Tolstói “Canta a Tua Aldeia e Serás Eterno”.

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Comissão Organizadora do Livro “Assim Escrevem Os Itarareenses”

Rua Prudente de Moraes, 837, Itararé-SP CEP 18.460-000

Silas Correa Leite

E-mail: poesilas@terra.com.br

sábado, 12 de setembro de 2009

Arte de Itararé Brilha nos 40 Anos da TV Cultura - Silas Correa Leite de Itararé na TV Cultura




Arte Literária de Itararé Brilha em Programa da TV Cultura


Inúmeros Portais de Mídia de São Paulo e do Brasil como o “JorNow - A Noticia Agora”, ou mesmo o “Portal Imprensa” veiculavam o release de divulgação:


Jornalista Silas Corrêa Leite, pioneiro do e-book, fala da carreira literária no "Provocações" (Redação Portal IMPRENSA)


“O poeta Silas Corrêa Leite, autor do primeiro e-book interativo da Internet, "O Rinoceronte de Clarice", participa do programa "Provocações", da TV Cultura, na próxima sexta-feira (11), às 22h (...). Em uma entrevista filosófica, permeada por uma espécie de poética da tristeza, Silas lança frases como: "Eu não quero dar a cara pra bater à lágrima. A vida não me deu limões? Então eu faço limonada de lágrimas(...)” O Poetinha Silas, como é conhecido, ainda diz não ser deste mundo e se compara a um ET (...). Ele acredita no fim das utopias, mas não da esperança. "Do pântano da condição humana, se eu não tenho sonho, então eu não me tenho mais". Silas Correa Leite tem forte atuação na internet e já é considerado referência na linguagem virtual. Colabora com vários veículos de comunicação do Brasil e do exterior, e tem alguns livros publicados, entre eles "Porta-Lapsos, "Poemas" e "Campo de Trigo com Corvos", “Contos”. Seu e-book, "O Rinoceronte de Clarice", sucesso de downloads, constitui-se de onze ficções, todas focando Itararé (sua cidade natal), cada uma com três finais (um final feliz, um final de tragédia e um final politicamente incorreto).”
Com essa noticia bombando na mídia, Silas finalmente se apresentou no Programa Provocações, da TV Cultura de São Paulo, dia 11/09, com o polêmico Antonio Abujamra, como de praxe, provocando Silas, que, extremamente lúcido como sempre e por estilo, também poeticamente tirou de letra, por assim dizer. Teve gente que, vendo Silas citar sua admiração pelo Mestre Itarareense, Jorge Chuéri, depois confessou por e-mail ao nosso maior escritor que chorou. Silas, em pinceladas certeiras contou sua vida, sonhos, esperanças, quem o influenciou, falou tambem do Radialista Hélio Porto (que o ajudou muito nos anos 70 em SP), mas sempre com o apresentador do Programa sendo contundente, tentando uma brecha para pressionar o entrevistado. Silas, de forma humilde mas dando literalmente um show, saiu-se muito bem, espetacularmente bem e bonito no seu linguajar peculiar, lembrando um Gandhi. O programa, aliás, começou com o apresentador já lendo o belíssimo (e de alguma forma assustador) Conto “O Cego” de Silas (que está difundido em vários sites da web), e, durante a entrevista, citava frases de poemas do Itarareense Silas que brilhou, fazendo bonito nesses 9 anos do programa e nos 40 anos da TV Cultura. Como durante a segunda guerra mundial ouvíamos um oficial no front dizer “Alô Itararé”, ou quando víamos o Maestro Gaya ser reiteradamente premiado com seus melhores arranjos musicais nos festivais da Record (Anos 60 e 70), desta feita é o Silas que, mais uma vez, leva o nome de Itararé no que brilhantemente produz, cria, promove sua terra-mãe. Ao final, o entrevistado com quase lágrimas nos olhos parabenizou Itararé pelos 116 anos, depois leu o seu poema-identidade, como diz ele:
“Ser poeta é a minha maneira/De chorar escondido/Nessa existência estrangeira/Que me tenho havido”.
Emoção pura! Itararé brilha na TV Cultura. O programa que concorreu com o final da novela Caminhos da índia, teve verdadeiramente entre os caminhos do Silas, mais uma vez, a sua consagração, a sua fala por e para Itararé que com talento canta em verso e prosa, o que faz certamente o seu povo, a sua familia, os seus amigos e conterrâneos, terem muito orgulho dele.O programa vai ao ar reprisado na madrugada de quinta-feira a partir das duas horas, depois tambem será divulgado em outros canais, Sky, TV E, do SESC, e em outros tantos canais de tevê a cabo.
No site da tv Cultura o leitor ainda poderá acessar o programa Provocações, rever, gravar, ver e ouvir a edição do programa do Silas, curtindo a emoção da arte de Itararé, do brilho de um Itarareense ilustre. Fiquei com orgulho de ser de Itararé. Bravo Silas!
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Mirna Cecilia Mainardi
São Paulo-SP
micema@bol.com.br