sábado, 31 de julho de 2010

Direito e Poesia




Direito e Poesia

João Baptista Herkenhoff – Direito e Poesia

A Poesia e o Direito são vizinhos. A Poesia engrandece o Direito. Só se alcança o Direito pelo caminho da Poesia.
O encontro do Direito com a Poesia nem sempre é fácil. Frequentemente ao Direito pede-se ordem. A Poesia alimenta-se da transgressão. Em muitos casos, entretanto, só se realiza o Direito pelas portas da transgressão. Que são os movimentos de desobediência civil senão a transgressão coletiva das leis? Foi essa a estratégia de que se utilizaram Nelson Mandela e Martin Luther King, na luta contra a segregação racial (na África do Sul e nos Estados Unidos). Que é, no Brasil, o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) senão a busca do direito à terra, ao trabalho, à sobrevivência, rompendo um suposto pacto social. Pacto social apenas suposto, não um pacto efetivo porque representado por leis protetoras de um pretenso direito de propriedade, interpretadas de maneira positivista pelos tribunais. Mesmo quando a propriedade não cumpre sua finalidade social, nas balizas desse pacto mentiroso tolera-se com indiferença o desvio.

Viva a liberdade dos poetas, no seu cântico:

“Nunca haverá fronteira na vida de um poeta. Sua bandeira é de luz, sua justiça é correta. Se errarem ele protesta.” (Silas Correa Leite).

Mas mesmo o Poeta, cuja missão deve ser o anúncio dos mais altos ideais, pode esquecer-se da vida que o rodeia. Quando há esse esquecimento, quando a Poesia não cumpre o seu papel, merece reprovação. E como é belo quando quem reprova o poeta é o Poeta, como nestes versos de um dos maiores a poetar em Língua Portuguesa:
“Ao ver uma rosa branca o poeta disse: Que linda! Cantarei sua beleza como ninguém nunca ainda! E a rosa: - Calhorda que és! Pára de olhar para cima! Mira o que tens a teus pés! E o poeta vê uma criança suja, esquálida, andrajosa comendo um torrão da terra que dera existência à rosa.” (Vinicius de Moraes).
Charles Chaplin, com sua profunda sensibilidade de Artista, puxa a orelha do jurista que se divorcia das angústias humanas: "Juízes, não sois máquinas! Homens é o que sois!"
Poesia é substantito feminino. Direito é substantivo masculino.
Há uma preponderante presença do masculino no Direito, a começar pela prevalência de homens nas funções judiciais. Só recentemente mulheres ascenderam aos tribunais, e mesmo assim, em total desproporção à presença de homens nessas casas.
Como escreveu Marita Beatriz Konzen,
“não há que se falar em estado democrático, enquanto não eliminarmos as gritantes diferenças sociais, dentre as quais, a desigualdade de sexos.”
A sensibilidade não é virtude exclusivamente das mulheres. Também os homens podem ser sensíveis, enquanto nem sempre as mulheres são portadoras de sensibilidade.
Mas, em termos globais, por critérios de totalidade, a Justiça seria mais sensível se abrigasse, nos seus quadros, uma presença mais significativa de juízas.
Utopia, Paz, Participação, Igualdade, Anistia são palavras femininas que apontam para o ideal de uma sociedade fraterna.
Racismo, preconceito, imperialismo, nepotismo, arbítrio são palavras masculinas que direcionam a sociedade para a exclusão e a injustiça.
O conselho de Eduardo Couture, dirigido aos juristas, deveria ser estampado nos fóruns: “Teu dever é lutar pelo Direito. Mas no dia em que encontrares o Direito em conflito com a Justiça, luta pela Justiça".
O conflito entre lei (com letra minúscula mesmo) e Justiça (com letra maiúscula sempre) é uma constante no espírito do Juiz.
Creio que deva prevalecer a Justiça.
Trabalhar com a pauta da lei para encontrar a Justiça é uma tarefa difícil.
Porém, por mais difícil que seja a tarefa, essa busca é obrigatória.
Reprovo, com veemência, a recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), pretendendo que o mérito ou demérito dos magistrados seja aquilatado pelo ajustamento de suas sentenças à jurisprudência dos tribunais superiores.
Quem renova o Direito é o juiz de primeiro grau, rente à vida.
Só o juiz de primeiro grau pode auscultar o ser humano, da mesma forma que só o médico pode auscultar o coração e o pulmão do paciente.
Os tribunais, como disse Eliézer Rosa, são sempre tribunais de ausentes porque nunca têm diante de si pessoas, mas apenas autos, papéis, argumentos.
Só a contemplação pessoal dos rostos e dos dramas humanos, que transparecem nesses rostos, pode permitir ao juiz humanizar a lei, ou seja, fazer com que a lei suba às esferas da Poesia.

João Baptista Herkenhoff, Juiz Aposentado é Livre-Docente da UFES e Professor pesquisador da Faculdade Estácio de Sá de Vila Velha.
E-mail:
jbherkenhoff@uol.com.br
Homepage: www.jbherkenhoff@uol.com.br

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Minha Poesia - Silas Correa Leite




Minha Poesia



“Minha poesia/É a minha salvação/Quando escrevo é uma forma de prece/Não necessariamente pedindo perdão/Minha poesia/É o meu silêncio/Meu encontro com Deus sem levitação/Quando escrevo é o meu espírito em ação/Minha poesia/É que me salva de mim/Para depois eu suportar a existencialização/Como a água que se transforma em vinho e pão/Minha poesia/É também a minha voz e a minha luz/Mergulho nela para ficar limpo e são/Porque escrevendo eu estou em oração...”
Silas Correa Leite – Santa Itararé das Artes, Cidade Poema
Site:
www.itarare.com.br/silas.htm
E-mail: poesilas@terra.com.br
Blogue premiado do UOL: www.portas-lapsos.zip.net

quarta-feira, 7 de julho de 2010

LEITE MATERNO, Poema, Silas Correa Leite




Leite Materno


És ao mesmo tempo
O céu e o ninho

Rabindranath Tagore


Ainda trago comigo
O cheiro do leite do seio de minha mãe
A acariciar-me; a olhar nos meus olhos de guri pidão e dizer:

-Meu-filho!

Sou a minha Mãe
Pois a continuo, já que fui parte dela
E sendo minha mãe Eugênia, caminho-a por onde sobrevivo...

-Filho órfão

Sem minha Mãe
Sou o leite derramado em tristes poemas
E o seio dela a chorar; a morte que a levou de minha vida para

-A Terra-mãe

Em Itararé agora
Está minha genitora plantada: Mãe-Itararé
E estarei lá um dia; leite materno convertido em lágrimas de

-Reencontro!

-0-

Silas Correa Leite –
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