sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Armando Merege, Artista Plástico de Itararé




Armando Merege de Oliveira, filho único de Armando Gasparetto de Oliveira e de Vera Marize Merege de Oliveira, nasceu em Itararé, São Paulo, em 28 de junho de 1958.


Em 1963 sua família mudou-se para Curitiba e já nessa época ele gostava de fazer desenhos.


“Desenhar foi algo que sempre gostei; desde aproximadamente os seis anos de idade já adorava ganhar materiais de desenho e pintura”.


Na adolescência conheceu Nelson Padrella (1938), um dos grandes artistas paranaenses, que morava próximo à sua casa e que exerceu grande influência na vida do jovem Armando.


“Eu ficava fascinado com sua atividade e quase sempre ficava espiando do peitoril de sua janela. Aquele cheiro das tintas me deixava super atraído por aquilo tudo. Algumas vezes ele me deixava entrar e participar em um ou outro trabalho que fazia”.


Merege inicia a sua trajetória artística por volta de 1976, durante o seu curso de Arquitetura, quando participou e foi premiado no XX Salão de Artes para Novos, promovido pela Secretaria da Educação e Cultura do Paraná. Também recebeu prêmios em 1980, no Salão Universitário do Cartum, em 1983, na 5ª Mostra do Desenho Brasileiro e em 1988, na quarta edição do Curitiba Arte, quando ganhou uma Viagem a Paris.


É possível que essa viagem tenha contribuído de forma decisiva para que o artista tomasse uma importante decisão na sua vida, trocar uma carreira bem sucedida de arquiteto pela vida difícil mas ao mesmo tempo apaixonante de artista plástico. Paris sempre foi e sempre será a cidade onde a arte está presente em todos os lugares. As visitas aos museus, às galerias e aos locais freqüentados pelos artistas, fascinaram o jovem arquiteto. Além disso, o fato de ter sido selecionado, nesse mesmo ano, para participar do 44º Salão Paranaense, o mais importante salão de artes plásticas do Paraná, deve ter influenciado nessa decisão.


Depois de 10 anos de grande sucesso como arquiteto, Merege fecha o seu escritório de arquitetura, encerra os compromissos pendentes e passa a se dedicar inteiramente à pintura, ao desenho e à construção de objetos. E foi com muita dedicação e muito trabalho, participando de inúmeras exposições coletivas e individuais, que Merege se credenciou para assumir um lugar de destaque entre os mais importantes artistas contemporâneos do Paraná.


Sem estar ligado a nenhum grupo, como era comum entre os jovens artistas nas ultimas décadas do século XX, na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil, Merege sempre preferiu desenvolver um trabalho individual e independente baseado na investigação de materiais, pesquisando texturas, possibilidades de associações e resultados possíveis como meio expressivo, sem abandonar, contudo, uma atitude estrutural organizada, resquícios da sua formação de arquiteto.


Embora a sua obra esteja marcada por uma absoluta liberdade criativa, a intenção construtiva não fica totalmente excluída, fazendo com que essa sábia combinação de valoração da matéria e de uma rígida disciplina na composição, se tornassem a marca característica de todo seu trabalho artístico. Utilizando sempre novos recursos e diferentes procedimentos em busca de soluções inusitadas, o artista incorpora materiais não convencionais como areia, pó de ferro e pó de mármore à tinta acrílica e, às suas colagens insere fragmentos de madeira, bambu, galhos, folhas secas, papelão, argila e pixe, quase sempre usando um suporte convencional como o papelão, a tela ou eucatex.


Em muitas das suas obras, as camadas densas de tintas recebem interferência de grafismos que estão a meio caminho entre o delicado e o agressivo, entre a figura e a abstração, o que pode ser entendido como uma espécie de homenagem aos seus artistas preferidos, Antoni Tàpies (Barcelona, 1923) e Jean-Michel Basquiat (New York, 1960 - 1988). Nesse conflito entre a forma definida e o gestual livre, o artista se detém na criação de sutis qualidades de luz e de texturas.


Sua gama cromática oscila entre uma tendência à monocromia e a um colorido neutro com predominância de ocres, negros, brancos e cinzas e com a inclusão de elementos em cores muito vivas como o vermelho, azul e o amarelo. Uma série de signos e imagens, que pertencem ao universo simbólico e interior do artista, dotados de peculiar significação, aparecem em suas obras com uma clara alusão à ecologia, às sociedades primitivas e aos signos antropológicos.


A combinação do legado matérico do Informalismo com a figuração, isenta de valor discursivo ou semântico explicito, coloca as obras do artista numa zona tênue entre a figuração e a abstração, limite esse que se torna muito difuso nos trabalhos dos artistas contemporâneos, especialmente a partir da década de 90.
As várias possibilidades de diálogo que se permite entre a obra de Merege e o observador possibilitam um tipo de contemplação criativa, onde a cada novo olhar se tem um novo quadro, fazendo com que a obra permaneça sempre contemporânea e atual.


As obras de Armando Merege revelam-no como um alquimista capaz de descobrir a natureza dos materiais, transformar as substâncias e dar significado à vida.


(Maria Cecília Noronha)

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