sábado, 28 de fevereiro de 2009

Cantiga de Ninar a Morte





Cantiga de Ninar a Morte

“Pertenço a tudo para pertencer
cada vez mais à mim próprio. A
minha ambição era trazer o
universo no colo.

Fernando Pessoa



Quando eu morrer, minha triste Mãezinha
Canta uma cantiga de ninar pra mim
-Dorme com Deus, filho, se aninha
O Trem Noturno pro céu está na linha
Te levará depressinha para muito além do fim

Então eu poderei dormir sonhando, Mãezinha
Com um céu muito além do desjardim
-Dorme filho; descansa a tua vidinha
Porque logo serás uma celeste andorinha
Com tua sonhada varinha de pirimpimpim
.........................................................................

No céu estarei com Deus muito além da vinha
Nos braços de um anjo chamado Serafim

-Dorme Poeta! Deixa a tua mãezinha
Ela tem que ornar tua familia inteirinha
Vela pela coitadinha: Sê anjo dela assim...

-0-

Santa Itararé das Artes, Cidade Poema, Cinzas, 2009
Silas Correa Leite, blogue:
www.portas-lapsos.zip.net
E-mail: poesilas@terra.com.br

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Armando Merege, Artista Plástico de Itararé




Armando Merege de Oliveira, filho único de Armando Gasparetto de Oliveira e de Vera Marize Merege de Oliveira, nasceu em Itararé, São Paulo, em 28 de junho de 1958.


Em 1963 sua família mudou-se para Curitiba e já nessa época ele gostava de fazer desenhos.


“Desenhar foi algo que sempre gostei; desde aproximadamente os seis anos de idade já adorava ganhar materiais de desenho e pintura”.


Na adolescência conheceu Nelson Padrella (1938), um dos grandes artistas paranaenses, que morava próximo à sua casa e que exerceu grande influência na vida do jovem Armando.


“Eu ficava fascinado com sua atividade e quase sempre ficava espiando do peitoril de sua janela. Aquele cheiro das tintas me deixava super atraído por aquilo tudo. Algumas vezes ele me deixava entrar e participar em um ou outro trabalho que fazia”.


Merege inicia a sua trajetória artística por volta de 1976, durante o seu curso de Arquitetura, quando participou e foi premiado no XX Salão de Artes para Novos, promovido pela Secretaria da Educação e Cultura do Paraná. Também recebeu prêmios em 1980, no Salão Universitário do Cartum, em 1983, na 5ª Mostra do Desenho Brasileiro e em 1988, na quarta edição do Curitiba Arte, quando ganhou uma Viagem a Paris.


É possível que essa viagem tenha contribuído de forma decisiva para que o artista tomasse uma importante decisão na sua vida, trocar uma carreira bem sucedida de arquiteto pela vida difícil mas ao mesmo tempo apaixonante de artista plástico. Paris sempre foi e sempre será a cidade onde a arte está presente em todos os lugares. As visitas aos museus, às galerias e aos locais freqüentados pelos artistas, fascinaram o jovem arquiteto. Além disso, o fato de ter sido selecionado, nesse mesmo ano, para participar do 44º Salão Paranaense, o mais importante salão de artes plásticas do Paraná, deve ter influenciado nessa decisão.


Depois de 10 anos de grande sucesso como arquiteto, Merege fecha o seu escritório de arquitetura, encerra os compromissos pendentes e passa a se dedicar inteiramente à pintura, ao desenho e à construção de objetos. E foi com muita dedicação e muito trabalho, participando de inúmeras exposições coletivas e individuais, que Merege se credenciou para assumir um lugar de destaque entre os mais importantes artistas contemporâneos do Paraná.


Sem estar ligado a nenhum grupo, como era comum entre os jovens artistas nas ultimas décadas do século XX, na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil, Merege sempre preferiu desenvolver um trabalho individual e independente baseado na investigação de materiais, pesquisando texturas, possibilidades de associações e resultados possíveis como meio expressivo, sem abandonar, contudo, uma atitude estrutural organizada, resquícios da sua formação de arquiteto.


Embora a sua obra esteja marcada por uma absoluta liberdade criativa, a intenção construtiva não fica totalmente excluída, fazendo com que essa sábia combinação de valoração da matéria e de uma rígida disciplina na composição, se tornassem a marca característica de todo seu trabalho artístico. Utilizando sempre novos recursos e diferentes procedimentos em busca de soluções inusitadas, o artista incorpora materiais não convencionais como areia, pó de ferro e pó de mármore à tinta acrílica e, às suas colagens insere fragmentos de madeira, bambu, galhos, folhas secas, papelão, argila e pixe, quase sempre usando um suporte convencional como o papelão, a tela ou eucatex.


Em muitas das suas obras, as camadas densas de tintas recebem interferência de grafismos que estão a meio caminho entre o delicado e o agressivo, entre a figura e a abstração, o que pode ser entendido como uma espécie de homenagem aos seus artistas preferidos, Antoni Tàpies (Barcelona, 1923) e Jean-Michel Basquiat (New York, 1960 - 1988). Nesse conflito entre a forma definida e o gestual livre, o artista se detém na criação de sutis qualidades de luz e de texturas.


Sua gama cromática oscila entre uma tendência à monocromia e a um colorido neutro com predominância de ocres, negros, brancos e cinzas e com a inclusão de elementos em cores muito vivas como o vermelho, azul e o amarelo. Uma série de signos e imagens, que pertencem ao universo simbólico e interior do artista, dotados de peculiar significação, aparecem em suas obras com uma clara alusão à ecologia, às sociedades primitivas e aos signos antropológicos.


A combinação do legado matérico do Informalismo com a figuração, isenta de valor discursivo ou semântico explicito, coloca as obras do artista numa zona tênue entre a figuração e a abstração, limite esse que se torna muito difuso nos trabalhos dos artistas contemporâneos, especialmente a partir da década de 90.
As várias possibilidades de diálogo que se permite entre a obra de Merege e o observador possibilitam um tipo de contemplação criativa, onde a cada novo olhar se tem um novo quadro, fazendo com que a obra permaneça sempre contemporânea e atual.


As obras de Armando Merege revelam-no como um alquimista capaz de descobrir a natureza dos materiais, transformar as substâncias e dar significado à vida.


(Maria Cecília Noronha)

Humor de Luiz Antonio Solda, de Itararé-SP


Sebastião Pereira Costa, SPC, à Direita


Escritor, Crítico Social e Jornalista de Renome, Atuando em Itararé e Itapeva

Livro do Solda, Cartunista Premiado de Itararé


Luiz Antonio Solda, Cartunista Premiado de Itararé





Luiz Solda Lança Livro de Cartoons


(Memória de Arquivo, Artes de Itararé)


Ele é paulista (de Itararé), mas foi em Curitiba que Luiz Solda despontou com um dos maiores craques do cartoon brasileiro. A sua história inclui passagens pelos principais jornais do Paraná, colaborações em veículos como Pasquim e Bundas e prémios em vários salões pelo País.Recentemente, o artista lançou um livro que faz jus ao seu talento. Intitulado simplesmente Solda (formato 25 x 25 cm, 144 páginas em papel de luxo, capa dura e sobrecapa, R$ 50,00, já com despesas postais incluídas), com prefácio de Jaguar, traz um resumo de sua carreira, com cartoons de várias épocas e foi patrocinado pelo banco HSBC.A "marca registrada" de Solda era o uso de um número enorme de letras e números nos desenhos. Ao mesmo tempo que esse efeito compunha as hachuras, também se tornava parte integrante da arte. No livro há ainda seis desenhos curiosos, que fogem um pouco a esse estilo, nos quais o cartunista mostra suas versões (bem distorcidas) de Mafalda, Alfred E. Neuman, Pato Donald, Snoopy, Capitão América e Superman.


Quem estiver interessado em adquirir o livro Solda deve escrever um e-mail para luizsolda@uol.com.br e obter mais informações sobre como proceder.

Maria Coquemala, Escritora Premiada de Itararé


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Vinho Jorge Chuéri - Tela de Zunir Pereira de Andrade Filho


Conto de Itararé, Literatura Itarareense







O Piá que Entregava Trouxas de Roupas Lavadas


“As lágrimas são as palavras da alma”
Joaquin Setanti


Acharam o piá quase morto de frio. Estava com uma grave pneumonia. Olhos castanhos, murchos, fundos, tristes. Chorava, copiosamente, de ressentimento, talvez. E as lágrimas em sua face com amarelão, como se estavam - por um anjo! por um anjo! - de alguma estranha forma congeladas; dando ao seu rosto pueril a sofrência de uma paleta de amargura e dor terminal. O policial Dito Lima, num fusca que mais parecia uma imagem de garrafa de crush itinerante, tinha subido a rua 24 de Outubro, ali, na altura do Clube Atlético Fronteira, perto da hora do inicio Missa do Galo, e vira o menino com um vazio saco de farinha de trigo usado na mão direita, como se segurasse uma roseira de tristices. Vira, em passant, por acaso, de vereda mesmo. Depois, precisando atender a um chamado do Vereador Chico Preto para um forfé suspeito nas imediações da malha férrea da Estação Sorocabana de Itararé, passou novamente na esquina ali pertinho, e, de través, com o rabo do olho captou de novo o guri e talvez já passasse da meia noite. Encafifou. Será o impossível? Um alarme divinal tocou em seu instinto. Só por Deus. Parou o fusca da policia e foi ver o que estava acontecendo. Sacou o desboque: o menino pobrezinho ardia em febre, murcho, trêmulo, se não fosse socorrido a tempo certamente que iria morrer. Era Natal em Itararé, Cidade Poema. Dezembro de um tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça.O piá era filho da Dona Lena. Levava e trazia rotineiramente as trouxas de roupas que a mãe lavava pra fora, precocemente ajudando como podia em casa. Trazia as pesadas trouxas de roupas sujas dos ricos, depois levava tudo de novo, roupa limpinha, fervida em água de bica (o chafariz do Bairro Velho), sabão de cinzas e anil, passada com os vincos certinhos, e que entregava direitinho, trazendo os minguados tostões pra suprir a familia grande e pobre, da carente periferia sociedade anônima de Itararé, pois o pai estava doente, os irmãos menores padecendo, por meses, mal-e-mal e sempre uma rotineira e rala sopa de fubá com couve rasgada. Havia carestia no Brasil, anos sessenta, os clientes ricos minguando, o já parco pagamento dos afazeres da mãe dedicada, entre o tanque e o quarador, entre o fogão de lenha e os filhos com amarelão. A Dona Lena confiava naquele primogênito, era o maior, dizia até que o bendito era abençoado por Deus. Gastava um minuto de prece com os outros filhos, nas demoradas orações, mas, com aquele seu protegido era meia hora, precisava investir no menino, tinha fé nele.Algo doente, Dona Lena, mesmo assim batalhou até de madrugada, fervendo as roupas no latão velho de óleo de algodão, sobre uma lajota com fogo no quintal de laranjeira pesteada. Depois, passou a ferro que era de brasas, com sacrifício, mas ela contava com mais aquele serviço, tinha planejado, ternura de mãe. A despensa estava vazia fazia tempo. Sopa de fubá com couve rasgada, polenta maleixa, aqui e ali, banana frita, uns ovos que mal davam prum bolo mixuruca de banana-caturra e olhe lá. O céu por testemunha. Se o Dr Aderaldo mandasse mais uma quantia de roupa, se apressaria em entregar depressinha o serviço, pra ter mais uns cobres que melhorassem a bóia de natal, talvez desse até para comprar algumas tubainas de limão do Vilela, ou mesmo algum doce de cidra pros filhos queridos, tão precisados. Instruiu o piá Thiago que, entregando as trouxas de roupas limpas, recebesse e passasse no Seu Vitorino, fizesse algumas compras, deu uma listinha, feijão-jalo, tomate, óleo, açúcar cristal. E também trouxesse a nova renca de roupas sujas pra ela poder adiantar bem o serviço, varando a noite preciso fosse, talvez entregando no dia seguinte, mesmo tendo que ferver as roupas de madrugada, mas, ao final do dia de natal entregaria tudo pronto e receberia a paga costumeira para melhorar a bóia em casa. Coração de mãe. Capricharia nos torresmos, cuques, tortas de lágrimas. Confiava no guri. Bem instruído, ele foi levar as pesadas trouxas, como se carregasse o mundão sem porteiras sobre os ombros miúdos. Entregou, recebeu, viu que era pouco o que pagavam pelo trabalho, mas atenderia à solicitação da querida Mãe. Mas, quando perguntou da nova porção de roupa suja da casa do Dr Aderaldo, foi informado de que não estavam mais interessados no serviço, contratariam empregada barata a preço melhor e que ainda faria tudo, depois, estavam para entrar de férias, iriam pra Iguape, litoral. O menino ficou estacado. Mal deram um tiau seco e sem graça que fosse, fecharam a porta da casa rica na cara azeda dele, e Thiago ficou ali, encostado na enorme porta de cedro e imbuia cheirosa, chorando suas lágrimas, quase beijando a parede, quase mesmo batendo de novo e pedindo pelo amor de Deus, mais uma leva de roupa suja, mais uma porção de serviço, a casa precisava, a mãe contava com aquilo, que fizessem uma caridade. Era Natal e ele estava detravessado. Sensível. Cismou. Reinou. Não voltaria pra casa. Não voltaria nunca mais. Não com as mãos vazias. Não ele. Não daquele jeito.Ficaria ali. Estava mesmo com tosse de cachorro, a mãe disse, o peito chiara na madrugada fria do dia anterior, um dezembro chuvoso e friorento em Itararé. Se morresse ali, não daria desgosto de dizer pra mãe que não teria mais roupa pra lavar daquela ultima casa freguesa, ou que iria apertar mais a pobreza em sua casa humilde. Sim, ficaria ali, achariam o corpo, dariam o dinheiro pra mãe, ela o abençoaria, “vá com Deus meu curumim, vá morar no céu, piá”. Ele não tinha coragem. A mãe pedira. A mãe contava com mais uma lavada pelo menos, naqueles tempos de carestia. Pelo menos morrendo, no jantar daquela noite sobraria mais da rala sopa de fubá com couve rasgada pros irmãos, para as adoradas irmãs, para a mãe adorável que andava dodói da angina, pro pai que estava de cama com úlcera varicosa e assim era impedido de trabalhar. Ali Thiago ficou entrevado, coração transido, alma aflita, mordido de dor. Só por Deus. Entardeceu, anoiteceu. Sobre a beirada da porta da frente da mansão do Dr Aderaldo Martins Mello, na Rua 24 de Outubro, um pacote de renúncias. Foi quando o policial Dito Lima o achou sem querer e salvou a sua vida, pois a morte já fora avisada que uma alma pura de Itararé estava para ser levada para muito além do vale da sombra da morte... Na Santa Casa de Misericórdia de Itararé foi uma correria danada, um forfé sem igual, o menino coitadinho para morrer; cobraram doações de sangue, labutaram, uma enfermeira conhecia a familia, foram avisar Dona Lena, o filho achado em petição de desconsolo estava morrendo em frente a casa do doutor rico, a mãe preocupada pensava mesmo em chamar a policia, ia dar parte na cadeia, perguntaram então do porque o menino que entregava roupa não quisera mais voltar pra casa, como ele ainda em tratamento emergencial, talvez entre o pesadelo e o sonho, falara, repetira, suando, descorçoado, determinado, em febre-terçã, preferindo morrer do que não ter como ajudar a mãe prover o lar. O Dr. Jonas de Alencar chorou muito depois que o pensou com presteza, mandou trazerem capado do sitio e que doassem pra familia junto com farnel de milho verde e manta de charque, entre grãos e tulhas de frutas como laranja-pêra, abacate-manteiga, manga-sapatinho, alguns lambaris salgados também. O enfermeiro Nicanor correu no Armazém do Vereador Tico comprar fiado uma boa cesta básica pra doar como se fosse o seu abençoado presente de natal pra familia. Todos no hospital, doadores, serviçais, visitantes, curiosos, gente de coração de ouro de Itararé, cavalheiros como os reis magos, foram acudir aquela familia humilde em petição de miséria. Muito além de ouro, incenso e mirra, há o amor, pois o amor é a mão que balança o berço da humanidade, e a esperança é a inteligência da vida. Nunca tiveram um mês tão farto naquela casa de tabuinhas, com todos finalmente comendo do bom e do melhor, até que a mãe arrumou freguesia nove e farta, o pai arrumou emprego de acendedor de lampiões de gás de Itararé, o menino Thiago ficou sendo respeitado pelos seus colegas do primário no Grupo Escolar Tomé Teixeira, e quando algum piá maroteiro de rua, com quem joga bola de capotão agora, de ki-chute encardido no pé, pergunta porque ele não quis voltar pra casa, ele enche os olhos de lágrimas, abaixa a cabeça, se assunta e não diz nada. Fica encruado.Não, não se apruma numa conversa fiada que seja. Sabe só pra ele que dentro do seu coração, de alguma maneira que inventou de inventar, sentiu uma estrela amarela de Natal alumiando, e ele queria aquela bendita luz, aquele dourado celeste de esperança, para enfeitar a choupana humilde de sua morada na descalça periferia cor-de-rosa de Itararé. Sentiu que, talvez porque fosse Natal, mesmo morrendo de frio, de alguma maneira seus familiares não morreriam de fome, pois, algum anjo de pertinho do Menino Jesus do presépio, em sua fé e defesa, operaria o que o Pastor João Vera ou o Padre Natalle Moretti chamariam de um “Milagre”.


-0-Silas Correa Leite, Itararé, Cidade Poema, São Paulo, Brasil


Publicado originariamente no Jornal O Guarani, Dezembro, 2008, Itarraé-SP

Canta a Tua Aldeia e Serás Eterno (León Tolstói)

Maestro Biglia, Regendo o Premiado Coral Santa Cecilia, no Centro Cultural de Itararé

Hino do Município de Itararé

Letra por Dorothy J. Moretti
Música: Gerson Gorsky Damasceno



Itararé das campinas e mil recantos amados,
Das verdejantes colinas e vales ondulados.
Das araucárias e pinus envolvidos na fragrância
Os ventos te cantam hinos, terra de nossa infância.
E do rio verde e caiçara, da gruta das andorinhas
Quem dera eu te alcançara, nesta trilha que caminhas!
Das araucárias e pinus envolvidos na fragrância
Os ventos te cantam hinos, terra de nossa infância.
De tua gente expansiva, brilhantes realizações
Te trazem sempre mais viva, junto aos nossos corações.
Das araucárias e pinus envolvidos na fragrância
Os ventos te cantam hinos, terra de nossa infância.

-0-


Santa Itararé das Letras, Amai Para Entendê-la

Santa Itararé das Letras, Bonita Pela Própria Natureza, Quando a Gente Ama é Claro Que a Gente Cuida - Sempre Haverá Itararé

Irmãs Pagãs, Elvira Pagã e Rosina Pagã, de Itararé-SP




Irmãs Pagãs, de Itararé-SP, Cidade Poema, Estância Boêmia



Irmãs Pagãs - Dupla vocal formada pelas irmãs Rosina Pagã (Rosina Cozzolino), Itararé, SP - 1919 e Elvira Pagã (Elvira Cozzolino) Itararé, SP - 1920 - Rio de Janeiro, RJ - 8/5/2003.


As irmãs Cozzolino ainda na infância transferiram-se com a família para o Rio de Janeiro, onde passaram a estudar no colégio Imaculada Conceição, situado em Botafogo. Organizavam e participavam de muitas festas e, por intermédio de integrantes do
Bando da Lua, passaram a conhecer alguns artistas da época.

Em 1935, apresentaram-se com os
Anjos do Inferno na inauguração do Cine Ipanema, ocasião em que foram apresentadas por Heitor Beltrão como as Irmãs Pagãs. Foram levadas para a Rádio Mayrink Veiga pelo radialista César Ladeira, fazendo grande sucesso na década de 1930.

Em seu primeiro disco na Odeon, gravaram as marchas Não foi assim, de
Antenógenes Silva e Osvaldo Santiago, e O carnaval é rei, também de Antenógenes em parceria com Ernâni Campos. Nesse mesmo ano, mais dois discos, dos quais se destaca a marcha Não beba tanto assim, de Geraldo Décourt, apresentada pela dupla no filme Alô, alô, carnaval, de Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro.

Em 1936, participaram do filme Cidade mulher, de Humberto Porto, onde apresentaram a música título (de
Noel Rosa), cantando com Orlando Silva. Em 1937, gravaram sambas de Assis Valente, dentre os quais Se você me deixar, Oba oba, Tristeza e O samba acabou. Foram contratadas pela Rádio Nacional e, neste período, excursionaram por quatro meses pela Argentina, Peru e Chile.

Em 1938, passaram a gravar na Columbia, destacando-se o grande sucesso carnavalesco Eu não te dou a chupeta, de
Silvino Neto e Plínio Bretas. Dentre os êxitos da dupla estão os sambas Nobreza, de Assis Valente, e a marcha Água mole em pedra dura, de Sátiro de Melo e Manuel Moreira, sucesso de 1940.

Com o casamento de Elvira, a dupla chegou ao fim, deixando um total de 13 discos gravados. Rosina seguiu carreira solo, tendo gravado mais 11 discos até 1946, entre eles a versão Chiu... chiu... (N. Molinari e Oswaldo Santiago) e participado de vários filmes como atriz. Ainda nesse ano, seguiu turnê em Cuba, EUA e México, cidade onde se casou e passou a residir.


Elvira Pagã seguiu carreira como estrela do
teatro de revista, tendo gravado mais de dez discos entre os anos de 1944 e 1953, tendo destque o samba Na feira do cais dourado (Nelson Teixeira e Nelson Trigueiro). Alcançou grande notoriedade, sobretudo por sua atuação como vedete, sendo considerada uma das mais belas mulheres de sua época - os anos 40, 50 e até começo dos 60.

A partir dos anos 70, Elvira começou a pintar, passando logo depois a realizar temas esotéricos em seus trabalhos. Em meados dos anos 1990, demonstrando grande instabilidade de comportamento, ao alterar momentos de euforia com rasgos de ira, recusou-se terminantemente a fazer depoimento para o Museu da Inglaterra. Em 1979 Elvira Pagã foi homenageada com um rock da cantora Rita Lee.

Conto de Silas Correa Leite na TV Cultura




Cego - Conto de Silas Corrêa Leite



Ouça (TV Cultura, Programa Provocações, Antonio Abujamra): [ 56kb ] necessário Windows Media
(Interpretação livre de Antônio Abujamra)


Cego de nascença, aprendeu a ler no escuro. Desde pequeno, os livros lhe eram abertos, os toques lhe fundavam janelas, os sons lhe eram caminhos de pedra.Um dia, achou um doador de córnea e pensou que os recursos adquiridos poderiam lhe render a visão total.Não aceitou ser operado por conta do governo, nem enxergar no claro. Ficou com medo de se olhar no espelho das pessoas e ter medo da escuridão que havia nelas.

Sobre o(a) autor(a):

Site pessoal de Silas Corrêa Leite, de Itararé-SP:


Conto apresentado no programa 202

Hino do Municipio de Itararé





Hino do município de Itararé

Letra por Dorothy J. Moretti e Gérson G. DamascenoMelodia por ?



Itararé das campinas e mil recantos amados,
Das verdejantes colinas e vales ondulados.

Das araucárias e pinus envolvidos na fragrância
Os ventos te cantam hinos, terra de nossa infância.

E do rio verde e caiçara, da gruta das andorinhas
Quem dera eu te alcançara, nesta trilha que caminhas!

Das araucárias e pinus envolvidos na fragrância
Os ventos te cantam hinos, terra de nossa infância.

De tua gente expansiva, brilhantes realizações
Te trazem sempre mais viva, junto aos nossos corações.

Das araucárias e pinus envolvidos na fragrância
Os ventos te cantam hinos, terra de nossa infância.

Boêmios da Estância Boêmia de Itararé


Armando Merege, Artista Plástico de Itararé


ARMANDO MEREGE, ARTISTA PLÁSTICO DE ITARARÉ



Armando Merege de Oliveira, filho único de Armando Gasparetto de Oliveira e de Vera Marize Merege de Oliveira, nasceu em Itararé, São Paulo, em 28 de junho de 1958.


Em 1963 sua família mudou-se para Curitiba e já nessa época ele gostava de fazer desenhos.
“Desenhar foi algo que sempre gostei; desde aproximadamente os seis anos de idade já adorava ganhar materiais de desenho e pintura”.
Na adolescência conheceu Nelson Padrella (1938), um dos grandes artistas paranaenses, que morava próximo à sua casa e que exerceu grande influência na vida do jovem Armando.
“Eu ficava fascinado com sua atividade e quase sempre ficava espiando do peitoril de sua janela. Aquele cheiro das tintas me deixava super atraído por aquilo tudo. Algumas vezes ele me deixava entrar e participar em um ou outro trabalho que fazia”.
Merege inicia a sua trajetória artística por volta de 1976, durante o seu curso de Arquitetura, quando participou e foi premiado no XX Salão de Artes para Novos, promovido pela Secretaria da Educação e Cultura do Paraná. Também recebeu prêmios em 1980, no Salão Universitário do Cartum, em 1983, na 5ª Mostra do Desenho Brasileiro e em 1988, na quarta edição do Curitiba Arte, quando ganhou uma Viagem a Paris.
É possível que essa viagem tenha contribuído de forma decisiva para que o artista tomasse uma importante decisão na sua vida, trocar uma carreira bem sucedida de arquiteto pela vida difícil mas ao mesmo tempo apaixonante de artista plástico. Paris sempre foi e sempre será a cidade onde a arte está presente em todos os lugares. As visitas aos museus, às galerias e aos locais freqüentados pelos artistas, fascinaram o jovem arquiteto. Além disso, o fato de ter sido selecionado, nesse mesmo ano, para participar do 44º Salão Paranaense, o mais importante salão de artes plásticas do Paraná, deve ter influenciado nessa decisão.
Depois de 10 anos de grande sucesso como arquiteto, Merege fecha o seu escritório de arquitetura, encerra os compromissos pendentes e passa a se dedicar inteiramente à pintura, ao desenho e à construção de objetos. E foi com muita dedicação e muito trabalho, participando de inúmeras exposições coletivas e individuais, que Merege se credenciou para assumir um lugar de destaque entre os mais importantes artistas contemporâneos do Paraná.
Sem estar ligado a nenhum grupo, como era comum entre os jovens artistas nas ultimas décadas do século XX, na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil, Merege sempre preferiu desenvolver um trabalho individual e independente baseado na investigação de materiais, pesquisando texturas, possibilidades de associações e resultados possíveis como meio expressivo, sem abandonar, contudo, uma atitude estrutural organizada, resquícios da sua formação de arquiteto.
Embora a sua obra esteja marcada por uma absoluta liberdade criativa, a intenção construtiva não fica totalmente excluída, fazendo com que essa sábia combinação de valoração da matéria e de uma rígida disciplina na composição, se tornassem a marca característica de todo seu trabalho artístico. Utilizando sempre novos recursos e diferentes procedimentos em busca de soluções inusitadas, o artista incorpora materiais não convencionais como areia, pó de ferro e pó de mármore à tinta acrílica e, às suas colagens insere fragmentos de madeira, bambu, galhos, folhas secas, papelão, argila e pixe, quase sempre usando um suporte convencional como o papelão, a tela ou eucatex.
Em muitas das suas obras, as camadas densas de tintas recebem interferência de grafismos que estão a meio caminho entre o delicado e o agressivo, entre a figura e a abstração, o que pode ser entendido como uma espécie de homenagem aos seus artistas preferidos, Antoni Tàpies (Barcelona, 1923) e Jean-Michel Basquiat (New York, 1960 - 1988). Nesse conflito entre a forma definida e o gestual livre, o artista se detém na criação de sutis qualidades de luz e de texturas.
Sua gama cromática oscila entre uma tendência à monocromia e a um colorido neutro com predominância de ocres, negros, brancos e cinzas e com a inclusão de elementos em cores muito vivas como o vermelho, azul e o amarelo. Uma série de signos e imagens, que pertencem ao universo simbólico e interior do artista, dotados de peculiar significação, aparecem em suas obras com uma clara alusão à ecologia, às sociedades primitivas e aos signos antropológicos.
A combinação do legado matérico do Informalismo com a figuração, isenta de valor discursivo ou semântico explicito, coloca as obras do artista numa zona tênue entre a figuração e a abstração, limite esse que se torna muito difuso nos trabalhos dos artistas contemporâneos, especialmente a partir da década de 90.
As várias possibilidades de diálogo que se permite entre a obra de Merege e o observador possibilitam um tipo de contemplação criativa, onde a cada novo olhar se tem um novo quadro, fazendo com que a obra permaneça sempre contemporânea e atual.
As obras de Armando Merege revelam-no como um alquimista capaz de descobrir a natureza dos materiais, transformar as substâncias e dar significado à vida.


(Maria Cecília Noronha)

Código do Itarareense Andorinha







01)-Itarareense não tem pais. Faz do Céu de Itararé e da Terra de Itararé, seus pais, sua família, seu lar terreal, e. em Itararé se sente dentro do seu próprio coração0

2)-Itarareense não tem casa. Faz da aldeia Itararé o seu ninhal, a sua casa, e a leva na alma, na mente, no coração, como uma honra, um orgulho, uma bandeira0

3)-Itarareense não tem poder divino. Faz de seu amor por Itararé, o seu poder divinal, com a graça de Deus0

4)-Itarareense não tem pretensão. Faz da própria iluminura pessoal por Itararé, a verdadeira pretensão de amor e paz0

5)-Itarareense não tem poderes mágicos. Faz de sua personalidade especial de ser Itarareense, os seus poderes mágicos, encantados pelo prazer de viver com humor e contenteza0

6)-Itarareense não tem vida ou morte. Faz das duas umas, tem Itararé, de Itararé veio e para Itararé irá, então, essa é a sua maravilhosa vidamorte, pois sabe que abençoadamente será Itararé um dia0

7)-Itarareense não tem visão. Faz da luz e do relâmpago que conecta o céu com a terra, a sua visão telúrica como um vôo para o celeiro cósmico, eterno, infinital0

8)-Itarareense não tem audição. Faz da sua sensibilidade espiritual, seus ouvidos, pois Itararé é forfé, é letral, é harmonia, melodia e ritmo

09)-Itarareense não tem língua. Faz da prontidão para o diálogo boêmio, o rebite da dialética sobrevivencial, por intermédio de sua língua chã

10)-Itarareense não tem luz. Faz de Deus a sua defesa, e de sua fé o seu baluarte de salvação em seu rincão natal, o seu paraíso de paz e luz como santuário

11)-Itarareense não tem estratégia. Faz do direito à vida o seu dever de salvar vidas também, pelo direito sagrado de ser feliz como eixo norteador, sendo essa a sua magna estratégia e orquestração

12)-Itarareense não tem projetos. Faz do apelo à imaginação o seu sonho, o que torna sua espiritualidade rica, como um soma para um interativo projeto de construção de uma vida melhor, um mundo melhor, uma peregrina busca evolutiva de todos por todos, todos por um e o uno, razão e fim, é a Estância Boêmia de Itararé

13)-Itarareense não tem princípios. Faz da adaptação a todas as circunstâncias, o seu próprio princípio e conceito existencialista de conviver e viver com solidariedade e muito humor, inclusive etílico

14)-Itarareense não tem tática. Faz da aceitação da escassez e da abundância, uma coisa só, uma tática de semear constantemente, no amor e na dor, servir sempre, prosperar e enriquecer inclusive em conhecimento, conteúdo e ainda em filosofia, até porque, a magnífica grandeza de Deus usa os boêmios para confundir os sábios e os artistas na arte como libertação

15)-Itarareense não tem talentos. Faz de sua hilária imaginação fértil, um talento laborioso de edificar com graceza e prazeirança a suntuosa árvore da vida

16)-Itarareense não tem amigos. Faz de sua mente e de seu coração, sua arca vivencial por um humanismo de resultados, portanto sabe que toda vida na face da terra e do céu, é uma alma amiga

17)-Itarareense não tem inimigos. Os inimigos é que os têm

18)-Itarareense não tem armadura. Faz da benevolência, da caridade e da ética plural-comunitária, a sua armadura, e sabe que viver é lutar, então não foge à luta

19)-Itarareense não tem espírito. Faz do território pluridimensional de todas as vidas, o seu campo de lavanda, onde a perseverança é sua área de sobreviver, sua busca para dar frutos, dar flores, semear poemas, serestas e bebemorações

20)-Por fim, Itarareense não tem paraíso, até porque, Itararé não é um lugar, é uma terra da fantasia, uma terra do nunca (nunca a esqueceremos), Itararé é um lirial celeste aqui mesmo, Itararé é uma idéia, um triunfo, um estado de espírito. No campo de estrelas de Itararé, fazemos nosso céu, nosso abençoado chão, porque o que somos é a grande raiz de onde viemos, e para onde formos levamos quem amamos, então, se do céu de Itararé viemos, ao chão de Itararé voltaremos, esse é o perene Código Vital de todo Itarareense que é andorinha grande, andorinha sem breque, um verdadeiro Taperá!-


E quem for Itarareense que siga.

Silas Correa Leite (Poetinha)

-E-mail: poesilas@terra.com.br – Blogues: www.portas-lapsos.zip.net ou www.campodetrigocomcorvos.zip.net -

Site: www.itarare.com.br/silas.

Poema do Rio Itararé Que Corre Pela Minha Aldeia





O Rio Itararé Que Passa Pela Minha Aldeia

O Rio Itararé
Que é o mais belo rio que passa por minha aldeia
Nascendo lá muito mais majestoso é
Do que aquele riozinho de estúdio na novela feia...

Porque o Rio Itararé
Sai da pedra, vai e volta, sonoro serpenteia
E a lapa de pedra da gruta da santa com fé
O rio itarareense em lágrimas do céu margeia

O Rio Itararé
Não é o rio da novela – e nem mesmo aquela santa
Porque a catedral do Itarareense está na Infinita Sé
Quando a andorinha notívaga de celestidade se imanta

O Rio Itararé
Não cabe numa novela, num canal de tevê, num tubo da televisão
À beira do rio santo o Itarareense tira a sandália do pé
E em berço esplêndido de luz lava a alma etérea e o altivo coração

O Rio Itararé que se vê estranho e diferente no tardiscar da novela
É falsa imaginação e um desmanche de pobre fantasia
Na terra-mãe a renda da espuma flutuante do rio é muito mais bela
E o milagre é de espiritualidade com a natureza em sintonia

O Rio Itararé não é global, é encantário, mágico, ninhal, infinito
Cabe na alma, no espírito; na pele honrada da gente
E depois o Rio Itararé é muito mais bucólico, pitoresco, bonito
E vem no DNA do que o seresteiro de Itararé sente

O Rio Itararé é cênico, fílmico, letral, polissinfõnico e eterno
E se passa na tez chão, no tembé, no espírito, na bandeira e até na divisa
Porque saber o Rio Itararé e levá-lo no coração por ter-no
E só em Itararé corre o Rio Itararé onde em chão de estrelas se eterniza
-0-
Poeta Silas Corrêa Leite – da Estância Boêmia de Itararé-SP
www.itarare.com.br
E-mail: poesilas@terra.com.br
Ver blogue de Itararé: www.artistasdeitarare.zip.net

A Fala do Itarareense, Por Silas Correa Leite

Foto do Literato Silas Correa Leite, em Palestra
Acadêmica Sobre "A Arte Como Libertação"
Na Universidade de Palmas, Facipal


A Fala do Itarareense (Itararé-ês - de Itararé-SP)

Pequeno Apontamento Para Rascunho de Micro-ensaio

A Linguagem do “Itararé-ês” – Confeitos de Comunicabilidades

-Itararé é um belo e bucólico município de divisa de estado. Por isso mesmo é de um cênico mirabolante, um circo de sítios descomunais, um portentoso chão de estrelas, verdadeiro palco iluminado por excelência de andorinhas sem breque (quem nasce em Itararé é “Andorinha”). E tem uma espécie de dialeto único, todo próprio da cidade bonita pela própria natureza, entre o São Paulo do sudoeste e o estado sulino do Paraná. Mistura nesse “Itararé-ês” de falações, resquícios do gauchês largado (passagens de tropas, revoluções, inclusões logísticas), o cor-de-rosa polaco catarinense que se canta no falar como se salmasse a palavra, o paranaense que mingua caipirices de um brasileuropeu, alguns fragmentos letrais (que multiplicadores se tornam rueiros) de italianos detravessados (imigrações), entre ciganos, húngaros, alemães, suecos, turcos e outros juncos viajosos de tantas diásporas extracontinentais. Por isso Itararé tem um variado elenco de repertório composto de diálogos errantes, falações de variantes etnografias, em falácias loquazes de dialéticas exuberantes, mais os chamados ditos populares, os tantos cantares poéticos; contações quase que líricas e até expiações letrais risantes. Itararé de divisa (e por isso mesmo também), tem lastro crítico-criativo, entre coivaras de ramos lingüísticos e sapés de linguagens com prosopopéias do chamado “contar palha” mesmo. Além de muitos causos e contentezas de variadas pernas e sulfixos, muito das barulhanças do chamado “ouvir-dizer”. Exemplos como forfé, guaiú, tardiscando, faiaca, de-vereda, conheceu papudo, pelames, ir de bubuia, saltei de fininho. Já pensou? Passei a vida inteira catando as linguagens pegajentas e popularescas de Itararé, com minha bateia de granizos. Um mosaico letral ridente. Acho que o itarareense tem linguagem carregada como quiabo na pedra... A bem dizer, escorregadia como água, diz-que-diz-que; bem prosaica no dia-a-dia, pitoresca e barulhada, quase fala-cantoria, louvação. E também nesse proseio próprio de divisa geocultural (?), separa os confeitos das falas na língua, como se um macadame de conversar em variadas raízes exóticas abrasileiradas, entre moendas e engenhos, feito linguagem líquida. Antes de esmerilhar o sujeito, sapecar o predicado e retumbar o verbo, invertendo com galanteio um e outro, pega a palavra para o varejo. Conhece do oficio. Que serpenteia nas passagens do dizer-se. Aliás, falando sério, o Itarareense é muito bom de bico. Conta papo afiado como garbo, saracoteia diálogos, re-oxigena serelepe as entoações ardidas. Na conversa fiada alumia os parafusos dos verbos e vocábulos, quando não inventa de inventar misturanças que redundam em neologismos, e no palavreio nutriente-cultural sapeca histórias do arco da velha (e do álcool da mais-valia sobrevivencial – ai de ti boemia de Itararé!). O “falar Itararé” é isso: um itararé-ês. Com falas como andar-de-segura-peido, calcanhar-de-frigideira e outras palavras descruzadas, o Itarareense deixa saudades e flores por onde passa, e nesse andarilhar seresteiro (e noiteadeiro) deixa fluir o seu vareio de linguagem própria. E entre mentiranças, claro, barulheiras sonoras, causos hilários, leva e traz o escarcéu líquido do ser de si, empanturrando bares e viagens de entintadas histórias pra boi dormir. O Itarareense deita falatório, e, com releituras nos palavreiros de divisa (com suas peculiares especificidades), como é, está, permanece, seduz e registra. Acontece. Traz Itararé dentro de si, como um signo ficante de enluo e orgulho-raiz. Entre a imaginação fértil e as memórias inventadas, entre o linguajar sério-luso e o lusco-fluxo do tabuleiro das linguagens, depura o arame de gramáticas bonitas, alegres, com paginações retumbantes.
Aliás, Itararé é berço esplêndido, e, falando sério, a bem dizer, a fala do Itarareense é centopéica.

-0-
Silas Correa Leite (Primeiro Apontamento Para Um Rascunho Literal)



Livros: Porta-Lapsos, Poemas, e Campo de Trigo Com Corvos, Contos,além do e-book de sucesso “O Rinoceronte de Clarice”, free no site www.itarare.com.br


(Texto da Série: “Eram os Deuses Itarareenses?”)

Luiz Antonio Solda, de Itararé-SP, pelo Famoso Humorista Jaguar


Quadros de Zunir Pereira de Andrade Filho


Poster Poema: Silas Correa Leite e Luiz Antonio Solda


Arte Popular, Arte de Rua, Artista Pinguim Santana, de Itararé