sexta-feira, 19 de março de 2010

Casa da Mãe - Para Eugênia de Oliveira

Eugênia de Oliveira, Mãe do Poeta Silas Correa Leite



Poema Homenagem

Casa da Mãe

Para Eugênia de Oliveira, In Memoriam, 13.03.10


Ir para casa e não ver a Mãe
É não estar em casa.
Ir para Itararé e não estar com a Mãe
É não estar em mim.
Ir para a Mãe e a Mãe não estar lá
Já é quase morrer.

Porque a casa e a Mãe se completam
Uma está em outra para assim muito bem estarmos em nós
E não encontrando a Mãe em casa
Podemos também não nos encontrarmos nunca mais.

Porque a casa-mãe-Itararé
É tudo uma soma de estarmos em nós mesmos
E da Mãe estar na casa e a casa ser a Mãe
Onde quer que a Mãe esteja.

Talvez, também, por isso é
A Casa, a Mãe, tudo - Itararé
Parte de nós. Como lágrimas no céu; como uma Igreja.

-0-

Silas Correa Leite, Poetinha da Estância Boêmia de Itararé-SP
E-mail: poesilas@terra.com.br
Site: www.itarare.com.br/silas.htm
Blogues: www.portas-lapsos.zip.net
www.campodetrigocomcorvos.zip.net


quarta-feira, 3 de março de 2010

Ideias Noturnas, Belo Livro de Eduardo Sabino, Resenha Crítica de Silas Correa Leite




Pequena Resenha Crítica

“Ideias Noturnas - Sobre a Grandeza dos Dias”, Livro de Contos de Eduardo Sabino

“O dia-a-dia não precisa ser extraordinário para
ser interessante. O cotidiano é riquíssimo de assuntos
e acontecências de toda espécie – fora e dentro da gente.
É só ficar com as antenas ligadas – as antenas da
curiosidade dos sentidos e dos sentimentos, de
senso critico, de senso poético, sem
esquecer do importantíssimo e
indispensável senso de humor”

Tatiana Belinsky

Você não consegue ler o livro de Contos “Idéias Noturnas” (Editora Novo Século, SP, 2009, 120 páginas, Série Novos Talentos da Literatura Brasileira) de uma só levada, a um só termo. Você é inesperadamente surpreendido na pegada de lê-lo e saber que tem que respirar a leitura, de alguma forma por si mesmo e de per-si, pontuando-a. Parar. Stop. Voltar a tomar pé e pulso no verbo ler. Reler. Porque cada vez que sondando antevê, “pensa” que é, que sonda o arremedo narrativo do devir, o tema e o andamento, mas tudo o que sentia parecer na verdade não é. Contos incomuns, algo (raros) estranhos, por assim dizer como elogio. Tiram você da lerdeza do ler puro e simples para uma sentição do que lê e admira. Grandeza dos Dias? Dos escritos também.

Os contos de Eduardo Sabino são claramente (literalmente) diferenciados. Escreve com uma boniteza que reveste a surpresa da contação em agradável prazer de leitura. Já ganhador de Concurso, participante de antologias, colaborando com veículos de comunicação, inclusive sites, é também editor da revista eletrônica “Caosletras.blogspot.com”. Nasceu em 1986, e, sendo tão novo e tão bom, denso, contundente que seja, é encanto gratificante sabê-lo e conhecer desenhos da escrita dele nesse novo livro de contos.

Otimamente bem Prefaciado por Rinaldo de Fernandes, que dele aponta com conhecimento de causa: “O protagonista do conto (Purgatório, pg 25) está entre o sonho e a realidade de um cotidiano desbotado(...). A vida eterna não nos resolve a angústia de viver (Eternas Angústias de um Imortal, pg 29)(...). Os contos de Eduardo Sabino, irônicos e intensos, com personagens angustiados, alguns à borda do desespero, não raro flagrados em situação de pobreza(...)”. Pois é, ironias, seres (quase-seres/sub-seres), animais, máscaras, monstros, vírus, loucuras... baratas. Doce Lar? Não há nexo na vida real.

Purgatório é sim, um conto sobre um “ser” urbanóide no entre-subsolo de um elevador; sobe, desce, lamurias, contemplações, martírios; reinando. O ser que incabe em si. Desconexões. Vazios. Impertinências (e um olhar ferino) do escritor retratando o ser de si no que vê, sente, repagina; em páginas de restos até porventura rotos que assim sejam. O olhar aproximando da trajetória alheia. “Todos abençoados porque estão vivos. Abençoados porque morrerão” (pg 31). Santo Deus!

Abismo (pg 33) uma das melhores criações do livro. Linda ficção. O abismo é viver; que é ser feliz, que é (talvez?) a própria estupidez de tentar ser Ser... A retina do escritor reformatando aspectos invisíveis, risíveis, verossímeis... criados, imaginários; resgatados também da rudeza dos dias... Sim, diz Eduardo Sabino, é preciso estar muito próximo para conversar a língua do olhar. (Céu Aberto, pg 49). Um roteador de sombras, como um eu-endereço-de-mim, em mim e no outro. “La Sombra”, belo conto, pg. 53, especifica o norte (mote?), o estilo: “La Sombra, a essas alturas um vulto com olhos amarelos e fiapos de cabelo, sugeriu que poderia haver uma esperança se os outros enxergassem melhor o que achavam tratar de meros contornos desprovidos de luz(...).

Eduardo Sabino joga luzes letrais em contornos que redescobre, pincela, amalgamado capta nuances, enlivra desafetos afins, defeitos de fabricação do humanus. De heróis a anônimos, povoando a criação (O Herói e o Escuro, pg 57) a situações-conflitos, rostos e trevas, ideias verbais (aqui noturnizadas). Seres?. Retratando tristezas que nascem e morrem a cada dia. What a Wonderful World?

Banzo (pg 75) emociona, cala fundo. Dói no literal. O melhor dos trabalhos. E por aí vai, O Inquilino, O Jardim Encantado, e outros tantos do mesmo gabarito. Eduardo Sabino relata aspectos (de condições humanas) entre espectros sub-existenciais até. De se ler com prazer, mais, entrar na alma da contação, satisfazer-se, sendo a leitura de “Idéias Noturnas” um imenso (muito) prazer. É o autor com talento dando voz aos desvalidos, aos tantos instantes-trevas da vida, inclusive a fragmentos de vidas retorcidas. Senti-las é isso. Escrever sobre elas, dando peso e fermento; purgações, coisa de quem está fazendo muito bem o que se propõe. In/purezas no pântano da condição humana? O criador se encontra no(a) self?

Nesses tenebrosos dias em que ando muito triste sozinho, escrevendo na pele do espírito a dor de um momento difícil, nervos frágeis à flor da pele, a leitura circunstancial do livro colocou um (algum) certo sentir novo (e revisitado no íntimo) em mim, como se tudo fosse mesmo só isso, cara pálida, nascer, sobreviver, morrer, no durante contorcer-se com a nossa dor, a dor dos outros, e, ainda assim e por isso mesmo captar a grandeza dos dias. Será o impossível? Tudo a Ser.

Entrar no mundo criacional de Eduardo Sabino é ter a sensação de que se lê uma história que nasceu por si mesma, em si mesma, como referendou Julio Cortazar. E assim Eduardo Sabino acertou em cheio, acertou a mão. É do ramo e muito bem conhece do oficio e da linguagem de. Contos para se ler com o olhar, afinando-se na riqueza de quem sabe dar vazão a querelas talvez corriqueiras que parecem sair da esquina do olhar; de um beiço de vida, num clarear de tardes e pertencimentos de seres que também são a nossa cara, pois a existêncialização não é nem uma herança e nem uma evolução apenas, mas, um certo modo de nos envolvermos com o sentido social-comunitário de nos fazermos em cada natureza de criadores e criaturas, feito espécies assim de “antenas” (parabolizadas) de nosso tempo, registrando tudo, doa a quem doer, custe o que custar. E dói muito mais em nós, sentidores, entre prismas e colchas de retalhos com sabenças sensíveis de foro íntimo. Goethe diz que “qualquer coisa que formos capaz de fazermos ou que sonhamos que somos capazes, devemos começar a fazer, pois a coragem traz consigo gênio, poder e magia”.

“Idéias Noturnas” é a magnitude de tudo isso e um rebite a mais. Sintam-se humanóides. Bem-vindos ao mundo literário de Eduardo Sabino e suas fragrâncias de dias cheio de ideias literariamente clarificadas.
-0-
Silas Correa Leite – Santa Itararé das Artes, SP, Brasil
E-mail: poesilas@terra.com.br
www.portas-lapsos.zip.net
Autor de CAMPO DE TRIGO COM CORVOS, Contos, Editora Design, SC