domingo, 30 de maio de 2010

ADUBOS, Poema de Silas Correa Leite





A D U B O S
(Miseris Nobilis)

O homem será, nos esgotos subterrâneos podres
do que restar da Terra destruída, uma espécie
mutante de bisonho animal selvagem, querendo
desesperadamente a pilhagem da radiação para
manter acesa o seu instinto ancestral de sobrevivência


A terra depois do caos será tomada pelos mendigos
A terra fervendo será loteada por milhões de mendigos
Os chamados emergentes informais das ruas
Os excluídos sociais vampirizados pelo neoliberalismo-câncer
A população em situação da rua finalmente
Sitiará condomínios, quartéis, palácios, fazendas improdutivas
E o preço do pedágio será o sacrifício dos incautos
Que serão a lenha e o alimento da turba insana
Para serem o fogo e o silo no mundo podre e frio
Enquanto cidades-naves lançadas a toque de caixa ao espaço
Levarão núcleos de ricos e poderosos para aldeamentos siderais
Como sementes com nódoas da espécie humana
E o cosmos todo então será poluído e predado
Pela decrépita e amoral escória da raça humana
Que quererá sobreviver muito além do mal que fizeram
A si mesmos, ao próximo, à sociedade e à via láctea
Como a barbárie da civilização em um historial que é remorso
Quando milhões de mendigos assumirão
O poder de mando e controle da terra entrevada
Até todos serem finalmente reduzidos a pó
E serem de novo e para sempre os adubos
Talvez de um novo céu
Talvez de uma nova guelra
Como não estava escrito desde a última Atlântida

-0-

Silas Correa Leite
E-mail:
poesilas@terra.com.br
www.portas-lapsos.zip.net

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Machado de Assis, Um Século Depois da Morte




A Importância de Machado de Assis Um Século depois de Sua Morte


Machado de Assis é o melhor escritor brasileiro de todos os tempos. A qualidade literária, a lucidez fora de série e o talento foram confirmados com o passar dos anos. Ler Machado de Assis é ter orgulho de ser brasileiro. De origem humilde, paulatinamente foi criando o seu magnífico mundo letral espetacular, fundou a Academia de Letras, marcou a arte lítero-cultural brasileiríssima com a sua essência de vida e também com o próprio registro magistral de sua época, de seu tempo, incluindo as agruras sócio-culturais do período. Escrevia como quem punha a alma do Brasil para madurar, dando testemunho de si nos despojos, registrando com sapiência em tantos livros importantes o seu valor, a sua cultura, fazendo com que, cem anos depois, ainda o estejamos estudando, tenhamos orgulho dele, pois nunca mais haverá outro como Machado de Assis, se assim podemos dizer, o Número Um. No Brasil é lido entusiasticamente como nunca, seus textos caem em provas e vestibulares oficiais de renome, jovens universitários de gabarito descobrem e estudam a sua maestria com as palavras, a construção dos quadros narrativos, o estilo todo peculiar e inconfundível. Fora do Brasil é tido como um gênio, a altura dos grandes nomes da literatura mundial, até mesmo muitas vezes sendo cobrado porque não teria sido indicado para o Prêmio Nobel de Literatura. Romances que passam a limpo as mudanças que vivia o Brasil; tons irônicos, enfoques humanitários, sempre recuperando situações nodais, moldando palavras e criticando os contrastes sociais de sua época e outras, império, escravatura, sociedade. Documentou, historiou, decodificou o meio hipócrita e mostrou toda a sua verve e o depuro no oficio do qual era mestre. Técnica narrativa cativadora, surpreendente linguagem e abstração portentosa que fundava ali, a graceza cultural emergente no seu mais alto estilo e qualidade, revelando a tez chão de sua carreira até hoje inquestionável. A importância de Machado de Assis cem anos depois de sua morte é a própria prova de que ele foi muito além de seu tempo, apesar das agruras do que a vida lhe impôs, e que talvez por isso mesmo também em seu caráter fizeram-no forte, valorando sua ética como registro de um povo, de um tempo, de um lugar. Sem ele, a literatura brasileira não seria a mesma. A sua importância até hoje é o testemunho do que ele foi pioneiro na qualidade histórica de sua área, insubstituível e o próprio tempo, como juiz soberano o valora sobremaneira, colocando-o no patamar dos melhores do mundo. Marco histórico, portanto, Machado de Assis tornou-se referencial para autores que o sucederam no ramo literário, criou linhagem qualitativa, fez escola, é comparado e está acima de todos, sendo citado com probidade e garbo, servindo como acervo de pesquisas históricas acadêmicas até, pertinente ao seu momento literal (costumes, figurinos, crendices, visões do império, da escravatura, da abolição, da república), além de dar sustentação para teses sociológicas e ainda ser considerado o fundador do melhor quilate da arte narrativa brasileira. Quando queremos citar um cidadão humilde que brilhantemente venceu na vida com arrojo, o primeiro nome lembrado é Machado de Assis. A sua importância é que seus livros vendem, sua técnica narrativa densa atrai, os seus personagens cativam (como Capitu e Bentinho, por exemplo) e ainda, com profundidade, permite múltiplos entendimentos, fazendo-no um personagem de si mesmo, um mito. portanto.
-0-

Autor: Silas Correa Leite Origem: Itararé-SP
www.portas-lapsos.zip.net

E-mail:
poesilas@terra.com.br

domingo, 9 de maio de 2010

Poema Para o Dia das Mães Sem Mãe - Silas Correa Leite




POEMA PARA O DIA DAS MÃES SEM MÃE

In Memoriam de Eugênia de Oliveira Correa Leite



“...Quando pouso a cabeça no travesseiro de algodão/E penso em minha mãe que morreu a pouco, eu choro/Eu e minhas lágrimas no escuro de mim mesmo/E as flores molhadas na fronha da cor do céu/Tudo o que batalhei, venci – foi por minha mãe/Descubro isso – e agora que ela enfim morreu/Pergunto se valerá a pena continuar lutando/Se há um sentido na vida com a morte.../Na solidão do quarto de madrugada acordo/E sinto de alguma forma a mãe presente/Então choro escondido de existir assim/Porque sem a mãe viver não faz sentido/De vez em quando parece que um certo anjo/Está no travesseiro e vem falar comigo/Pelo silêncio da fronha ele me consola e ouço/A minha mãe me cantando uma cantiga de ninar...”



Fronha, Poema Do Dia da Mãe, Silas Correa Leite, www.portas-lapsos.zip.net

domingo, 2 de maio de 2010

Bibliotecas - Sem Bibliotecas Não Há Educação Perfeita




Opinião:
SEM BIBLIOTECAS NÃO HÁ EDUCAÇÃO PERFEITA

“Só quem tem fé em si é
capaz de ser fiel aos outros...”
(Erich Fromar)
Para Monteiro Lobato

Nenhum projeto pedagógico é confiável, se no seu contexto - mesmo de interdisciplinaridade - não pensar a inclusão do estatuto da Biblioteca como suporte assistencial-humanista no próprio processo ensino-aprendizagem. Sem Biblioteca não há Educação que se preze. Mestres e Alunos trocam relações-lições. Passa por aí a visão da reciprocidade, a didática salutar, o básico conteúdo importantíssimo, claro, e como instrumentalização direta e imediata, a indispensável Biblioteca enquanto ótimo acervo-sustentação de um objetivo, um propósito, um estágio seqüencial evolutivo, até como retaguarda epistemológica, inclusiva e fundamental também a partir disso. Professor que não utiliza livros (assim mesmo no plural) desconfie. Leituras e releituras como um todo são importantes. Professor que despreza esse espaço-opção não é bom professor. Livro é tão hábil-útil quanto pode ser o giz, um apagador, a lousa, a informática, a história em quadrinhos, o teatro, a banda de rap: livro é tudo. Professor que não facilita a biblioteca (e seu acervo) aos alunos, é, de certa forma, um profissional com precariedade inerente, um professor limitado. E cego de alguma forma, portanto. Se o pior ignorante é o cidadão que sabendo ler não lê, o que dizer de um educador que sabe pensar e não pensa; que deveria criar e não cria, que deve preescrutar horizontes e não saca o óbvio que está na cara? O que dizer de um educador que não planifica uma utilização prático-racional a partir de seu cunho pessoal num projeto aula-biblioteca, no seu curso letivo de aulas, com reviçadas técnicas, letramentos e mesmo enquanto laboratório/oficina de produções, sensibilizações cognitivas, lúdicas e outras pensagens? A biblioteca é a alma de um espaço de saber, de ciência e da produção dela, de produção de conhecimentos e de levantamento de dados importantes. A biblioteca é tudo isso e muito mais. E não é só caminho suave, linguagem, português, aulas vivas, habilidades, letras e literatura que faz o bom uso da biblioteca. Todas as matérias da grade curricular devem necessariamente passar por ela, precioso espaço enquanto habitat primordial de estudos, enquanto palco de encantações para abrir corações e mentes, cursos e coragens, inclusões literárias, bases lítero-culturais, letramentos de tantas aventuras possíveis; de bagagens e mesmo o diáfano reino da fantasia tão cativante em suas maviosas inclinações criativas por abstração e curiosidade. O melhor amigo do aluno - enquanto ser humano e alma cidadã fora do circuito sócio familiar - é o pedagogo. E o melhor amigo dessa relação de troca, de soma e de busca consubstancial, é o livro enquanto chave-mestra de tantos encantários, um mosaico de ninhais e aprendizados, inclusive no aspecto sócio-comunitário e ainda mais no meio empírico-científico. Já pensou? Ler é adorável. Escrever é resultante matriz de primeira. Um livro é uma ferramenta espetacular nesse extraordinário contexto docente-discente todo. Como brincar de ler, como ler para brincar de aprender e sonhar refinamentos íntimos, abstrair com riqueza de imaginação, moldar a sensibilidade, a ternura e a emoção, repaginando idéias a partir daí, pela capa atrativa, pela história especular, pela sonoridade e leveza do texto, pelo final feliz de uma viagem nesse compasso imagético livro a dentro, um sururu de aleluias de palavras, parágrafos, pontos, metáforas, eufemismos, travessões, acentos, maravilhosos achados poéticos e acidentes de percursos gramaticais diferentes que assim seja. Se quem lê vale ouro, imagine o autor criando o inexistente, fabricando idéias, pondo minhocas elétricas na cabeça dos sensíveis alunos procurando rumos novos, pescando horizontes variados, sacando caixinhas de surpresa além do skate, descobrindo mundos além do webpage, palavras novas além do blogue, construções e reforços de estima num feedback muito bem avaliado? Imaginem então o Mestre pondo livros na cabeça dos alunos: Essa é a idéia. É bem por aí mesmo. Professor, mostre a língua. Livro é vida. Um livro é um tesouro. Quem didaticamente aprende junto com a escola cíclica a ter livros e livros como suporte na sala de aula, a partir do trabalho escolar feito em casa, vê a vida diferente, pensa o mito muito além da lenda, numa estimativa além de 360 graus. É a metáfora da viagem. É a matemática do folclore. É a história da feição humana. É a geografia do aparato cênico. É a ciência na produção de conhecimentos, iluminismos e iluminuras. É a linguagem táctil que brota em chão fértil, é a arte que fecunda evoluções futuras, revisitanças imedististas, exemplos salutares, descobertas como incentivos, referenciais como fábulas em visões que partem do micro espaço pueril para abranger altos céus e testemunhos de grandezas precoces. Biblioteca é dez! A biblioteca vale ouro nessa relação contextual. Ler & escrever é referencial de ser e de humanização continuada, reforço e estrutura construidora, pois um bom livro estimula, equilibra, dá um dínamo na capacidade do aluno, faculta novos desafios e acena viagens interiores de sonhos e prazeiranças. Que o colega professor dê livros de reforço; cobre resumos de histórias lidas em grupo e em alto e bom tom; faça a prova dos noves em criatividades vernaculares, em toda matéria enseje leituras, redações críticas, produções de textos, estudos reflexivos, sempre a partir de um livro, de preferência um bom livro para cada idade e em seu tempo serial. Uma boa história de sucesso na educação enquanto estimulo para a categoria em resultantes sociais, passa pelo menos pela dinamização do uso inteligente da biblioteca. Alunos são livros também. Vamos abrir essas páginas de rosto?

Já dizia o poeta “Bendito o que semeia/Livros a mão cheia”. É por aí. Use e abuse da biblioteca.

Faça dela a sua melhor amiga. Sem biblioteca não há educação que preste. Livros, revistas, gibis, jornais, imagens e palavras, desenhos, pôsteres e enfeitações. Tudo a ler. Tudo a ser? Seja esse bendito Anchieta no limiar do século trinta, abrindo leques de opões em elencos clássico de literatura para abrir sensibilidades desses alunos-livros. Afinal, se dizem que cada alma é um livro aberto, vamos fazer a "Teoria da Biblioteca na Educação" ser cem por cento positiva, dinâmica e funcional. Era uma vez uma idéia.
-0-
Poeta Prof. Silas Corrêa Leite – Estância Boêmia de Itararé-SP
E-mail: poesilas@terra.com.br
Prêmio Lígia Fagundes Para Professor Escritor, CRE-Centro de Referência em Educação Mário Covas – relator da ONG Transparência nas Políticas Públicas
Teórico da Educação, Jornalista Comunitário e Escritor Premiado
Autor de Porta-Lapsos, Poemas, 2005
Site pessoal: www.itarare.com.br/silas.htm